top of page

Fim do Hangar 110: o texto mais triste do Not Dead!

Gabrielli Salviano

Fazer o caminho entre o metrô Armênia e a rua Rodolfo Miranda no último sábado, dia 23 de dezembro de 2017, foi difícil. E não dizemos isso apenas por nós, mas sim por todas as 1.200 pessoas que lotaram duas vezes o Hangar 110 em suas últimas sessões, conduzidas pelo CPM 22.

Você deve saber o motivo: o Hangar 110 é há 19 anos, dois meses e seis dias o palco mais importante do undergroung brasileiro. E isso é unanimidade entre bandas de punk, hardcore, hardcore melódico, emocore, pop-punk, alternativo, ska, entre diversos outros subgêneros.

Mas a importância disso tudo não está apenas no fato de o Hangar 110 ser um lugar especial para milhares de bandas. A galera que frequentou todos os shows ao longo desses anos também têm muitas histórias pra contar.

Até por isso, a vibe pré-show era diferente do que já estávamos acostumados. Fica difícil de descrever, mas era um misto de tristeza com alegria. Tristeza em ver mais uma casa fechar e alegria em poder participar dos últimos momentos do Hangar. Depois de fazermos o caminho entre o metrô Armênia e a rua Rodolfo Miranda, uma cena comum foi ver pessoas tirando fotos de cada detalhe da fachada. Teve também quem ficou um tempão parado em frente do lugar, fotografando cada detalhe com a memória.

Enquanto esse era o clima que rolava de fora do Hangar 110, acontecia a primeira sessão do CPM 22. A julgar pelos ouvidos, a primeira plateia aproveitou bem e cantava cada música a plenos pulmões - mais alto até que o próprio som da banda!

Mas, de volta à calçada do Hangar, fizemos amizade com uma veterana. A Laura Maia tem 36 anos e passou a adolescência frequentando o lugar. E ela pode se orgulhar de um fato que poucos podem: testemunhou o primeiro evento do Hangar, que contou também com um show do CPM 22.

“Eu andava com uma galera mais velha e eles me chamaram pra ir na inauguração de um pico legal, que ia ter show do Gritando HC. Eu disse ‘vamo que vamo’! Mas nunca nem tinha ouvido falar do CPM 22.”

De lá pra cá, a relação com a banda da noite aumentou e a Laura virou fã. Ao saber do fechamento da casa e da atração final do Hangar, ela não perdeu tempo: comprou as passagens, o ingresso e veio de Santa Catarina para testemunhar o show no local.

E aí, até o show começar foi uma ansiedade sem fim. Nos telões os clássicos DVDs de bandas de hardcore melódico dos anos 90, que formou muita gente musicalmente, aquela conferida em cada detalhe do interior da casa, aquela última cerveja pré-show e um sentimento de saudade antecipada.

Quando as cortinas do palco se abriram para a segunda sessão, todo esse sentimento explodiu, e a plateia se deparou com Marcão e Cil no palco, ao lado dos integrantes do CPM 22. E, então, chegou a hora do último show da história do Hangar 110.

O CPM 22 fez um show cheio de energia e os integrantes fizeram questão de mostrar para todo mundo ali que estavam gratos de ter a oportunidade fechar aquela história com chave de ouro. No entanto, o show foi pouco nostálgico.

A banda priorizou no setlist músicas do último lançamento, “Suor e Sacrifício” (2017), e abandonou super hits. Mesmo assim vimos algumas pérolas ao vivo. Não faltou “Garota da TV” e “Light Blue Night” no setlist, assim como alguns hinos da geração 2000, como “Anteontem”, “Atordoado”, “Desconfio” e “Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum”.

O show também teve participações de uma galera que ajudou a escrever a história do Hangar 110, como integrantes do Dead Fish, Blind Pigs e Gritando HC. Ver encontros assim no palco foi uma surpresa boa para quem passou a tarde na expectativa de ter uma noite memorável!

O saldo final do show foi positivo: a banda segurou bem a responsabilidade, proporcionou um show ideal para os circle pits e stage dives obrigatórios, que contagiou até os donos da casa. É isso mesmo, a história do Hangar 110 foi encerrada com um stage dive dos próprios donos.

Depois de tudo isso, aquela cena se repetiu: as pessoas nostálgicas da porta continuaram tirando fotos do interior e da fachada do local, muitas demoraram um pouquinho mais para deixar a casa e teve também quem derrubou algumas lágrimas antes de fazer o caminho de volta ao metrô Armênia.

Como uma das muitas homenagens que a casa recebeu, o diretor Daniel Ferro produziu um mini documentário que mostra um pouco da história do Hangar e conta com depoimentos emocionados de fãs e próprio Marcão.

Agora, alguns dias depois do show derradeiro, ficou uma lição, como bem lembraram o vocalista Badauí e o baixista Fernando Sanches no palco. Temos que apoiar nossa cena local, as bandas de nossos amigos e frequentar os shows, pagando nossos ingressos. Temos que fazer uma nova cena underground nascer e outras casas importantes como o Hangar surgirem.

A gente não quer que essa história acabe aqui!

11 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page