Há quem diga que o primeiro álbum de uma banda é o álbum de uma vida, por resumir nas faixas as vivências do compositor experienciadas até então. Com o Zero To Hero está sendo mais ou menos assim, a não ser pelo fato que a banda já nos mostrou a que veio com dois EPs lançados no ano passado, “Do Anything” e “Bad Situations”. Agora, a banda retorna com o seu primeiro full length, “breakwalls&buildbridges”, divulgado no dia 10. No disco, os caras mesclam músicas bastante antigas, que nasceram antes do Zero To Hero começar, com novas faixas que surgiram a partir do meio do ano passado. Ao trazer diversas fases e pontos de vista dos mesmos integrantes, ouvimos músicas que remetem ao pop-punk e falam de relacionamentos assim como faixas mais introspectivas e experimentais, com novas referências sonoras. “O Danilo começou a ouvir Tiny Moving Parts e achou que deveria enfiar o dedo na guitarra de um jeito violento. O foco das letras também mudou pra uma coisa mais pessoal e introspectiva. Pra mim, essas foram as grandes mudanças. Tivemos mais cuidado, carinho e capricho, além de outras influências musicais.”, diz o vocalista e baixista Pedro Cursino. Ao Not Dead!, os integrantes revelaram que as novas músicas estão conversando cada vez mais com elementos como math rock e midwest emo. Antes do álbum ser lançado, os integrantes divulgaram estrategicamente três singles, com o objetivo de resumir em primeira mão todas as linhas pelas quais o disco caminha. Em “Emotional Flatlining”, ouvimos uma banda mais experimental sonoramente e liricamente, com uma letra mais profunda e pessoal sobre apatia, que ao mesmo tempo está com os pés nas raízes pop-punk. Na segunda escolhida, "Self-Medication", a banda foi ainda mais fundo na experimentação. Entregou uma música altamente inspirada pelo grunge que tem uma interpretação vocal mais visceral do que já tínhamos escutado até aqui. A letra também vai além e fala de vícios. Na terceira música, "Not Good Enough", os caras voltam à estética dos primeiros EPs, até por se tratar de uma composição mais antiga. Enquanto as melodias são criadas ou aperfeiçoadas pelo baterista Nicolas Brown e pelo guitarrista Danilo Camargo, as bases, linhas de baixo e as letras são de responsabilidade de Pedro. Tudo começa com uma ideia que não tem fórmula para ganhar vida, podendo ser o instrumental ou os versos. As mensagens são inspiradas por diferentes coisas, mas geralmente refletem as experiências do músico. “Eu não me acanho não porque me abrir em músicas é o melhor jeito que eu conheço pra mim. As situações ficam mais claras quando eu verbalizo, do que quando elas simplesmente martelam na minha cabeça. O engraçado é que eu lido com isso de um jeito estranho. Quando estou mal fico na minha e não falo com ninguém, mas depois escrevo tudo na música e canto pra todo mundo o que estou sentindo.” Em termos de melodia e gravação, a banda também explorou novos elementos. Algumas músicas têm trompete, meia-lua (que é usada desde o single “The Future Freaks Me Out”) e até alguns charmes da gravação. Um defeito na captação gerou um ruído que lembra o som de brasa queimando, que a banda optou por manter já que ambienta bem as faixas. Outra característica é que as composições contam com diversas camadas de som, até chegar no resultado final. Mas, segundo a banda, a única coisa que não foi muito trabalhada na gravação foi a voz. “A gente só usou reverb em uma faixa e eu briguei muito pra não usar autotune. Tirei de 90% das músicas porque queria que fosse orgânico, natural, do jeito que a minha voz soa normal, sem parecer um robô”, explica Pedro. “Quero que a pessoa ouça o álbum, vá ao show e se impressione, achando o ao vivo igual à versão de estúdio. Não queria que fosse igual acontece com o blink.” Segundo o baterista, a versatilidade da banda musicalmente foi um dos grandes destaques dessa nova fase. “Tenho a sensação que o primeiro single atingiu uma galera e o segundo alcançou um perfil bem diferente, inclusive uma galera que ainda não conhecia a banda. Eu acho que pelo fato de ter muitas coisas diferentes no álbum, vamos atingir vários públicos.”
Totalmente independente Enquanto experimentar foi o lado mais divertido do processo de criação de “breakwalls&buildbridges”, para a banda o ponto mais desafiador foi pagar por tudo isso. O primeiro álbum do Zero To Hero será divulgado de forma totalmente independente, sem apoio até mesmo de selos pequenos. Esse, inclusive, é um dos motivos que justifica a escolha por não fazer cópias físicas do trabalho.
Mas o fato de ser um projeto 100% autônomo fez com que o álbum contasse com ideias dos integrantes do início até o fim do processo. Durante o período de criação e gravação a banda não contou com a figura de um produtor. “Não tivemos ninguém nos falando como o álbum deveria ser. Foi tudo da nossa cabeça e do nosso gosto mesmo. Teve só responsável de mix e master, mas é lógico que pedimos opiniões para algumas pessoas e, de acordo com o feedback delas, montamos nossa produção Frankenstein”, explica Pedro, que quis opinar em cada etapa da criação. Entre o círculo de confiança do Zero To Hero estão amigos e integrantes de outras bandas da cena musical interiorana. “Em primeiro lugar está o Bruninho (Bruno Mokado), que mixou, masterizou e acompanhou a maior parte da criação. Ele toca numa banda chamada Bonde do Groove, de Taubaté. Também mostramos pra outras bandas, como o pessoal do Bemvirá e o João da Personas, sem falar de outros amigos”, conta Danilo. Na bateria, Nicolas revela que quem deu muito apoio foi o Israel, da Twin Pumpkin. “Ele sempre me mostrou o melhor caminho, tanto nos EPs quanto nesse álbum. Eu sempre dei ouvidos porque sempre saiu legal.”
O que ficou de fora “breakwalls&buildbridges” conta com 10 faixas inéditas. Mas como o Zero To Hero segue criando novas músicas, naturalmente algumas coisas ficaram de fora do álbum. “Eu lancei no Bandcamp algumas sobras em versão acústica, que gravei no banheiro de casa, com erro e tudo”, conta Pedro. O vocalista e baixista do Zero To Hero destaca três músicas que ficaram de fora, mas eram fortes candidatas a entrar no debut: “Sleep Tight”, “Again Again I Love Repetition” e “Two Places, The Same Time”. “‘Sleep Tight’ é uma música com tempos muito quebrados. Ela tem uma introdução na bateria muito foda, que é bem difícil. Mas por ela ser muito quebrada, estava difícil de encaixar no álbum e o refrão foi difícil de finalizar. Como ele é instrumental, sem voz, precisava estar perfeito e ainda não acertamos”, explica. Outra música é “Again Again I Love Repetition”, que já está finalizada, mas que a banda encontra dificuldades em encaixar a voz na melodia, já que ela pede um tom muito alto. Segundo Danilo, essa faixa estará certamente em um próximo lançamento do Zero To Hero. Sobre a terceira candidata, “Two Places, The Same Time”, a banda conta que não entrou no disco porque não agrada o baterista. “Ela tem o mapa mais complexo que já fiz na minha vida e a letra não tem refrão. A guitarra é bem agressiva, com tempo quebrado, e o baixo é mais trabalhado já que não canto em muitas partes. Eu e o Danilo amamos essa música, mas ela só não entrou por que o Nicolas disse que não dava”, revela Pedro. Se você ficou com vontade de ouvir os b-sides de “breakwalls&buildbridges”, é só clicar aqui. Já o álbum na íntegra você encontra em todas as plataformas de streaming. A banda também disponibilizou lyric videos para as faixas e você confere abaixo: