Na próxima quarta-feira (10), o Zero To Hero divulga o seu álbum debut, “breakwalls&buildbridges”, uma das nossas apostas para 2019. As músicas do disco de estreia dos caras trazem um pouco do pop-punk que a gente já conhece dos EPs “Do Anything” e “Bad Situations”, com outras influências de subgêneros como math rock e o próprio emocore.
Se antes a banda falava na maioria das letras sobre relacionamentos, agora diversifica ainda mais os temas ao mergulhar em questões pessoais, como os efeitos da depressão e ansiedade. Também experimenta mais elementos nas músicas, como novos instrumentos e efeitos sonoros, das guitarras à gravação.
Enquanto as faixas não chegam às plataformas de streaming, o Not Dead! divulga mais detalhes sobre cada uma das 10 músicas que fazem parte de “breakwalls&buildbridges”. Os integrantes do Zero To Hero revelaram pra gente com exclusividade as histórias por trás de cada uma das tracks. Confira:
“TM31”
Pedro: A primeira do álbum é “TM31”. Essa foi a última música que a gente fez dessas dez. Na letra, a ideia é toda de reconstrução. Tem uma deusa, que eu acho que é indiana, que é conhecida como a deusa da destruição. Pras pessoas esse conceito é estranho, mas pra mim não. Quando você destrói é pra construir algo melhor em cima de tudo. Eu peguei essa ideia e levei para o lado psicológico. Às vezes, é difícil fazer terapia e se cuidar, porque no começo você se destrói. Sua cabeça é uma casa, você quebra as paredes e nada sobra. Você fica sem teto e perdido, fica tudo sujo, te dá rinite, fica tudo uma merda. Depois, você sobe as paredes e coloca um teto, percebe que a casa não tem mais mofo. Pinta as paredes e vê elas não são mais de tijolinho. Por mais que você não esteja acostumado, vai construir algo melhor em cima. Ainda tem uma piada no nome da música, porque eu jogo muito Pokémon e TM31 é ‘brick break’, quebrar tijolos e destruir tudo, que inspira também o nome do álbum.
Nicolas: Nessa música, no final dela, a gente faz uma brincadeira e tem um momento pra cada integrante. A gente está tocando aí para e tem um solo de guitarra do Danilo, depois continua, para de novo e o Pedro sola e depois eu solo na bateria. Eu, como baterista, pude experimentar muita coisa e fazer gracinhas. Foi também a faixa que mais consegui me expressar. porque ela é rápida e depois fica devagar, tem paradas...
Pedro: Sim… ela tem um mapa bem estranho, não é aquela coisa de verso, refrão e verso.Nicolas: E, mesmo assim, eu acho ela chiclete. Aquele refrãozinho pega!
“Being Lost Is Part Of Getting There”
Pedro: Essa música é meio antiga, tem uns dois anos.
Danilo: A gente fala da “Emotional Flatlining”, mas nessa a gente também penou pra caralho pra terminar. Ela nem ia entrar no álbum.
Pedro: Ela teve várias versões e nunca esteve no nosso agrado. A gente achava que o refrão dela quebrava a música. O andamento tem uma pausa que é só vocal e depois ela fica lenta e acelera de novo. Estava muito vazio e estranho, então a gente colocou uns dedilhados.
Danilo: É a música que eu mais curto do álbum. É muito bizarra. Ela começa agitada, depois dá uma morridinha e do nada explode. Parece que só aí ela começa de verdade, mas depois volta de novo.
Pedro: No final, ainda tem uma surpresinha. Muda até a sequência de acordes, quebra o tempo... Ficou bem trabalhada, mas até acertar foi um parto! Na letra, fala de relacionamento, até por ser mais antiga. É sobre você estar em uma relação e tentar de tudo pra dar certo e nunca estar bom. Você nunca é o suficiente pra outra pessoa e isso não é amor!
Nicolas: Foi a mais difícil de criar alguma coisa na bateria e eu tinha um preconceito danado com ela. Inclusive, cagando pra letra, eu sugeri mudar. Fui bem idiota nela. Se não fosse o Danilo fazendo as graças dele na música, eu não teria conseguido criar alguma coisa.
Pedro: Inclusive, essa música só saiu por que o Danilo insistiu muito.
Danilo: Eu namoraria com essa música!
“Emotional Flatlining”
Pedro: É um estado de psique e, traduzindo pro português, se chamaria anedonia, que é quando você é incapaz de sentir prazeres mundanos. É um nome bem feio e parece um Pokémon. Você está anestesiado e não consegue sentir as coisas externas, nada te impressiona, nem pro bem e nem pro mal. Vai na mesma ideia da música “Numb” do Linkin Park. Foi uma coisa que eu vivi, infelizmente. Pelo menos me inspirou e pra uma coisa serviu. Você fecha os olhos, conta até 10 ou mil, abre os olhos e nada mudou. Você não sente nada, sua avó pode morrer e você não chora. E ainda quando você sente algo é tristeza!
Danilo: Essa a gente já toca há algum tempo e na guitarra tem acordes abertos. Levou um tempinho até desenvolver.
Nicolas: A primeira faixa foi a que eu mais brinquei e nessa foi a que eu mais fui verdadeiro na bateria. Não puxei de nada, era realmente eu ali na bateria. Não consigo pensar em alguma referência que peguei. Claro que tem viradas que são universais, mas fui bem sincero e transparente.
“To My Surprise”
Pedro: Tive a inspiração dessa música em um jogo de cartas nada a ver, o “The Elder Scroll: Legends”. Tem partes do jogo que são modo história. Em uma delas não tinha final feliz, clichê de herói salvando a princesa. O fim era agridoce. Um dos personagens questionava se era assim que a história acabava é um outro disse que era desse jeito mesmo, porque nem todas as histórias têm final feliz. Isso ficou na minha mente porque é muito real. Às vezes, são só pessoas dando o seu melhor e não tem final pra justificar os meios. Mas a letra até que é good vibes em relação às outras. Os versos são um diálogo, com pessoas se perguntando sobre aquilo e depois com alguém respondendo, talvez a cabeça, não sei ao certo. O refrão fala que às vezes a oportunidade está na sua frente e que ela deve ser aproveitada.
Nicolas: Detalhe que isso é um jogo de carta. Fico imaginando o Pedro pensando nisso enquanto joga. Eu só jogo truco!
Pedro: A inspiração vem de tudo! Pode vir até de frase de caminhão. Inclusive, essa música era um poema, e aí o Danilo mandou um riff no grupo e eu pensei que podia dar em alguma coisa. Eu joguei meus versos em cima dessa base e virou essa música.
Nicolas: Na bateria eu só fui seguindo a vibe dela, é mais simples. Por isso que ela é a mais legal de tocar no show, porque eu já estou cansado e aí vem “To My Surprise”!
“Anxiety”
Pedro: É uma música muito velha, que tem quase quatro anos de idade. Era pra estar nos EPs, mas era uma faixa muito complicada na época pra gente de desenvolver e executar. Ela é bem comprida e precisa de uma dose de carinho e paciência pra ser executada.
Nicolas: E também pra ser ouvida!
Pedro: Sim, porque é uma música muito parada e repetitiva, mesmo tendo muitas partes que são rápidas e dão um gás. Acho que é a mais antiga que tenho que entrou na banda. As outras são mais descontraídas e essa é muito séria, acho que isso é outro motivo pra não ter entrado nos EPs.
Na letra, o tema é ansiedade, que não é uma coisa que eu sofro. Ter uma crise, um episódio de ansiedade, não é a mesma coisa de ter um transtorno de ansiedade, mas pode acontecer. Então eu narrei um episódio de quando eu me senti sufocado, quando os pensamentos não te deixam em paz, como se ansiedade fosse uma entidade. O instrumental é muito trabalhado e muito bom, tem muito de jogar a bola pro outro.
Nicolas: A bateria também é a mais cansativa do álbum inteiro. Tiraram ela do repertório em São Paulo e eu nem perguntei por quê! Deixei quieto…
Pedro: Quando escrevi, tive uma inspiração muito pesada de grunge. Estava ouvindo muito então tem umas pontes e uns finais cheios de distorção. Mas ela não é pesada, apesar de ter partes rápidas. O legal é que a melodia casa com a letra, é um negócio calmo e leve, mas não quer dizer que é lento. Ficou mais artístico. Tipo, você está calmo, mas o seu pensamento está acelerado.
Danilo: Pegando esse gancho, isso se reflete nas guitarras. Ela começa calma e depois o BPM vai mudando e acelerando, fazendo jus ao nome da música.
“Not Good Enough”
Pedro: Essa é a que eu menos gosto. Por mim, a gente nem lançaria ela ou poderia ter colocado nos EPs, porque, naquela época, eu gostava dela. Acho que teve um efeito “Los Hermanos - Ana Júlia”, em que você não gosta música. O Los Hermanos odeia “Ana Júlia” e eu odeio Los Hermanos, então já viu, né?
A letra é boa, a desenvoltura dos instrumentos e da melodia do vocal é boa também, mas depois de tanto ouvir e por eu não me identificar mais com a letra, peguei um pouco de repulsa e aversão, e prefiro passar batido por ela. Se fosse fazer um ranking, pra mim ela entraria por último no álbum.
Danilo: De instrumental não tem muito o que dizer, é mais do mesmo que a gente estava fazendo. É pop-punk, mas eu explorei bastante coisa de efeito de guitarra.
Pedro: É melodia feliz com letra triste. Uma coisa que a gente já explorou muito nos primeiros EPs.
Danilo: Mas é uma música que me traz boas lembranças, a gente tocou no nosso primeiro show, então tenho um certo afeto.
Pedro: Ela entrou no álbum por uma questão mais afetiva mesmo.
Nicolas: Muita gente gosta dela. A gente viu pessoas que tinham aprendido o refrão e pensamos que seria uma boa incluir.
Pedro: Muita gente pedia pra jogar logo no Spotify.
“Temperature Of Tears”
Pedro: A inspiração pra essa foi outra música, de um DJ japonês que se chama DJ Okawari. Ele tem uma faixa com o mesmo nome, mas não tem letra, porque é lo-fi, música pra relaxar. Eu sou fã de carteirinha de lo-fi, então ao ouvir essa música e, pelo nome dela, comecei a ter uma viagem muito grande. Decidi escrever algo com esse tema. A brisa que tirei é que a temperatura das lágrimas, seria a única coisa capaz de aquecer uma pessoa, porque as lágrimas são quentes. Ou seja, a tristeza seria um sentimento que aquece, que faria você sentir alguma coisa, que poderia ser um combustível pra algo diferente. Isso me levou a uma coisa que vivi em um relacionamento passado, então fala sobre despedida, a passagem do tempo, as mudanças.
Nicolas: Essa música era pra ser uma coisa no começo e eu acho que fui o cara mais chato no processo. Eu falava pra fazer isso ou aquilo e, no fim, todo mundo foi na minha.
Danilo: A gente fez também um gang vocals no final dessa música. Nós chamamos uma galera legal, que acabou colando. Ficou bonito. Eu me senti no final de ano da Globo.
Pedro: Tinha dez ou doze pessoas juntas numa sala minúscula. Todo mundo colado, abraçado e encoxando a outra. É uma música bem legal, tem até trompete.
Danilo: A gente nem falou disso nas outras. Três músicas tem trompete. Foi gravado digitalmente e a gente queria levar pros shows, mas ainda não temos os equipamentos pra fazer isso ao vivo.
“Only Cowards Skip Interludes”
Pedro: O que inspirou o nome dessa música, que não tem letra, vocal e nada gritado, foi um tweet do Oso Oso sobre o interlúdio do blink-182, “The Fallen Interlude”. Eles escreveram assim: “existem dois tipos de pessoa: as normais e os covardes que pulam ‘The Fallen Interlude”. Ela é uma parte instrumental que eu escrevi há muito tempo.
Danilo: Inclusive, ela foi feita na mesma época que “Being Lost…”. Tinha esse interlúdio que tinha outra música junto e essa que também entrou no disco. Eu lembro que tirava uma brisa, porque achava as duas muito parecidas.
Pedro: Uma era a resposta da outra e essa música sumiu! E aí o interlúdio casou com a “Self-Medication” que vem depois. A gente colocou ela dropada e ficou no mesmo tom.
Nicolas: A gente achou que ficou bonitinho e que combinava com a música. Você vai ouvir o interlúdio e achar que ficou parecido com “Noite Feliz”.
Pedro: A gente tinha essa parte instrumental que não tinha letra, não tinha evolução nenhuma e não encaixava com nada, então decidimos combinar com outra música. Mas assim, era muito grande pra ser uma introdução de música.
Danilo: Inclusive a “Self-Medication” já tem uma introdução da introdução da introdução.
Pedro: Mas ele é muito bom e a gente gosta muito! Foi meio “Ah, que se foda! Vai ser um disco com interlúdio sim!”. A gente gastou dinheiro pra gravar uma música que nem letra tem. A gente sabe muito bem administrar o nosso dinheiro.
“Self-Medication”
Nicolas: Agora a gente vai começar pelo instrumental. Você vai entrar no YouTube e digitar HUM - Stars. A gente copiou a música inteira desses caras!
Pedro: Que mentira! Nada a ver. O Nicolas escuta uma base de bateria, acha a levada legal e depois copia e faz adaptações, e começa a achar que é tudo plágio.
Nicolas: Eu sou sincero porque normalmente as bandas negam e eu assumo que essa música é plágio.
Pedro: Quem plagia bateria? É a mesma coisa! Brincadeira, mas não é bem assim. Essa música fala de vícios e válvulas de escape. É sobre precisar de alguma coisa pra fugir da realidade e estar cansado de lidar com quem você se tornou. Eu não deixo claro o que é, não falo se é bebida, droga, videogame, relacionamentos… fiz questão de não ser específico. Mas o que quer que seja faz você fugir de si mesmo.
Danilo: Foi uma música que eu tive menos esforço. Ela estava quase pronta quando o Pedro nos mostrou.
Pedro: Eu fiz questão que ela continuasse do jeito que era. O Danilo colocou a personalidade dele no solo. Geralmente, eu dou a base e até imagino o solo, mas os detalhes, as passagens e a virtuosidade quem dá é o Danilo.
“Silver Winds”
Pedro: “Silver Winds” foi a mais difícil de escrever e eu acho que era a única música que eu tinha certeza que estaria no álbum. Ela diz muito sobre o pior período que eu já passei na minha história recente. É 90% acústica e a banda só entra no final. A letra fala muito de isolamento, a depressão na pior forma, uma coisa quase crônica. Ela narra o episódio de uma pessoa, no caso eu, que não existe mundo afora. Essa pessoa dorme 18h por dia e ainda acorda cansada. É uma coisa que não tem lógica, mas aconteceu. Pra mim, é bem pesada. Eu fiz questão de colocar ela pra frente, construir.
Inspiração pro instrumental foi bastante das músicas acústicas do The Story So Far, como “Navy Blue”. Tentei fazer uma música soar como ela, que tem um peso muito grande. No final tem um refrão, outros elementos são adicionados e muita coisa muda, até culminar em uma resolução muito pesada. O silver wing vem do Pokémon, que é um golpe. Eu mudei pra winds, e a resolução é falar que todos sentimentos ruins talvez nunca mudem e que os ventos prateados me levariam embora. Eles seriam o suicídio. Eu não concordo mais com esse pensamento, mas no momento era isso.
Nicolas: Essa música era pra ter sido gravada no violão por ser acústica. Mas no dia o Danilo esqueceu de levar o violão e ela foi feita com guitarra.
Danilo: Claro que não!
Pedro: Mas o acústico foi feito numa guitarra mesmo. O engraçado é que foi captado direto do amplificador. Então a gente colocou o microfone no amplificador e ele pegou o barulho da palheta batendo. A gente tentou isolar com um cobertor e fez um bilhão de gambiarras, mas ainda aparece se você prestar muita atenção. Mas a gente deixou, ficou legal assim!
Danilo: Tem também o fogo no interlúdio e na “Self-Medication”, uma barulho de fogo estalando. Deu algum problema, acho que no cabo, mas ambientou legal, ficou gostosinho. Dá vontade de comer fondue do lado de uma fogueira em Campos do Jordão.
A curiosidade pra ouvir “breakwalls&buildbridges” está como? Altíssima! Então fica de olho no Not Dead! que na próxima semana vamos divulgar uma matéria com o Zero To Hero sobre o novo álbum.
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