top of page

Faixa a faixa: Sundae Tracks - Phone Trio

Gabrielli Salviano

Com três EPs, dois full lengths e 14 anos de estrada na bagagem, o Phone Trio se prepara para divulgar no final deste mês mais um trabalho de inéditas, o “Sundae Tracks”. Com a missão de trazer um lançamento por ano após o hiato que separou a banda por um tempo, a nova gravação abre caminhos para um resto de 2018 que inclui grandes tours e muitas novidades para os fãs da banda.

O novo compilado de músicas mostra sonoridades e abordagens diferentes, se comparado ao antecessor “Bonanza”, de 2017. Em “Sundae Tracks” o Phone Trio traz um som levemente mais pesado, fruto de influências clássicas da banda, como No Use For A Name e Bouncing Souls, nomes respeitadíssimos do hardcore melódico que estourou nos anos 1990. Tudo isso embala letras nostálgicas, conflitos pessoais e discussões importantes, como depressão e suicídio.

Nós, do Not Dead!, ouvimos “Sundae Tracks” com exclusividade e também conversamos com o vocalista e guitarrista do Phone Trio, Sal Oliveira, que contou mais detalhes sobre cada uma das quatro faixas do EP. O resultado você vê abaixo e escuta na semana que vem, no dia 21 de setembro:

“Hometown Meltdown”

É uma música curtinha, que fala justamente sobre a minha decisão de me mudar do Rio de Janeiro para São Paulo com a minha namorada. Ela fala sobre tudo que isso representa para mim e para a banda… foi uma loucura, uma ruptura, mas o momento foi oportuno, de “agora ou nunca”.

A música fala muito sobre esse clichê de você querer sair da sua hometown e como isso significa muito para mim. E ao mesmo que é uma parada muito pessoal, toda banda de pop-punk fala sobre isso, então tem esse lance da identificação também. Melodicamente, ela tem um pé no Rancid e The Bouncing Souls. Ela é pesada, rapidinha, bem californiana. Estamos amarradões em tocar essa, vai ser maneiro!

Essa decisão de me mudar não veio por causa de trabalho, mas sim pela falta dele. Da sensação de que o Rio de Janeiro já deu culturalmente, já que para o entretenimento o estado não tem tanto mercado. Eu me vi preso em um trabalho que eu curtia, mas que não estava me dando realização nenhuma por não ser na minha área. Juntou isso com o fato de que precisei vender meu apartamento e que aluguel é absurdo no Rio. Eu e minha namorada conversamos, percebemos que 90% dos nossos amigos estavam em São Paulo e decidimos buscar novas oportunidades. Hoje estamos maravilhados com a forma com que as coisas acontecem aqui. A questão da banda é o que entristece, dá saudade dos amigos que ficaram por lá, mas todo mês volto para o Rio, então está tudo certo.

“Sundae Tracks”

É uma homenagem não só à festa Sundae Tracks, mas também para a Casa Matriz que é meu segundo lar. Ela é uma boate no Rio de Janeiro que existe há aproximadamente 16 anos, que eu frequento desde a adolescência, quando nem podia entrar. Eu cresci lá como profissional, DJ e como pessoa. Todas as experiências que eu tive na vida se iniciaram lá, meus relacionamentos começaram e terminaram nesse lugar. Pra mim é muito especial, dá essa sensação de casa mesmo, e a música traz esses momentos.

Quando escrevi, estava morando muito perto de lá, a duas quadras. Às vezes era quarta-feira à noite, eu chegava exausto do trabalho, meio pra baixo, e ia para a Matriz. Aí eu via um monte de gente que conheço, cantava no karaokê, me divertia… E foram muitos anos disso!

Já a Sundae Tracks era uma festa que a gente via todo mundo se encontrando e ficando amigo, desde a galera dos shows de punk rock ao pessoal que gostava das festas indie. Quem produz essa festa é o Melvin, baixista do Carbona, que é um grande parceiro meu. A música junta tudo isso: é uma homenagem ao Melvin, à Sundae Tracks, à Matriz, à sensação de ter um lugar que você pertence, e à saudade, porque uma hora vai deixar de existir. Hoje vemos a Matriz passando por um momento difícil. Quis deixar esse legado.

“Hollowed Out”

A terceira faixa é a que a gente já liberou. Melodicamente, a “Hollowed Out” é No Use For A Name purinho! Eu estava ouvindo muito o “The Feel Good Record Of The Year” naquela época, que foi um momento muito emotivo, depois do suicídio de uma amiga minha carioca, que estava morando em São Paulo.

Era uma pessoa muito especial e a gente se conhecia desde sempre, por causa da cena do Rio, mas demoramos um tempo para virar amigos. Começamos a nos falar mais pela internet, por ter assuntos e amigos em comum. Ela era uma pessoa muito, muito foda! Era forte! Foi muito difícil ver uma pessoa que, pra mim, era uma fortaleza desistir da vida e resolver descansar. Foi bem pesado!

Quando isso aconteceu, percebi que já tinha visto essa história várias vezes e parei para contar as baixas. Vi que em menos de cinco anos, 12 pessoas do mesmo ciclo que a gente se mataram ou morreram em decorrência de problemas de saúde mental. Quando eu notei isso, meu mundo veio abaixo e repensei um milhão de coisas, como o meu próprio trabalho. Inclusive, foi um dos vetores dessa minha decisão de ir pra São Paulo e mudar tudo.

Essa música, que é um pedido de socorro. Nossa geração está doente, a gente não pode deixar de falar sobre isso. E desde então, perdemos mais um amigo por causa disso e por isso decidimos lançar essa música logo, mesmo sendo pesada. A gente não costuma falar desses assuntos mais densos, somos mais PMA (Positive Mental Attitude), mas dessa vez não deu!

“Milo Garage”

Assim como “Sundae Tracks”, a “Milo Garage” é bem Phone Trio tradicional e tem todos os elementos que a gente sempre usou de referência, como The Ataris e Saves The Day. A música é uma ode aos quatro anos que nós fizemos de turnê com o Cinedisco, entre 2006 e 2010.

Foi uma das épocas mais especiais da vida, que a gente estava quase todo fim de semana na estrada, seis malucos no carro. Era fácil de viajar porque eram seis no Cinedisco e três no Phone Trio, sendo que dois de nós eram do Cinedisco. Era só pegar um carro e ir todo fim de semana para São Paulo, Curitiba, interior…

Só temos histórias foda dessa época e todas elas estão na música. Desde pegar van no feriado e ir para o sul, passar muito perrengue, tomar banho no posto de gasolina, van fedida de homem, troço nojento, show para cinco pessoas em quase todos os lugares que a gente ia, mas que valia a pena para caralho! A gente estava focado em fazer o que a gente amava, que era botar os sentimentos para fora, conhecer gente, se divertir.

O Milo foi um lugar que marcou muito a gente porque nós íamos sempre que a gente estava em São Paulo. Na frente tinha umas barraquinhas que vendiam bebidas suspeitas e teve um dia específico que o Hugo encheu a cara de fogo paulista e foi vomitando de lá até São Bernardo, na casa do Fernandão do Cinedisco.

30 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page