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Not Dead! entrevista: Hurry Up

Gabrielli Salviano e Michelly Souza

2019 começou mostrando a força da cena nacional com o segundo disco de estúdio do Hurry Up.

Foram cinco anos de experiências e estrada entre o trabalho de estreia “Ambulance Field Service” e “Empatia”, lançado em janeiro. As composições, mais maduras, trazem como tema a ideia de colocar-se no lugar do outro. Também exploram temas importantes e ainda considerados tabu, como a depressão.

Tudo é embalado por um pop-punk, com influências de hardcore melódico dos anos 1990. E o Not Dead! aproveitou a vinda dos interioranos à capital este mês para bater um papo sobre a nova fase da banda, as inspirações por trás do álbum e mais. Confira a entrevista que rolou nos bastidores do show com o Dinamite Club:

Not Dead!: Em uma entrevista vocês se definiram como “pop demais para o punk, punk demais para o pop”. Como surgiu isso? Por que se encaixam nessa definição?

Hurry Up: Na real, a gente se descobriu pop-punk no meio do rolê. Todo mundo ouvia e curtia [bandas do gênero], mas a origem da banda é no hardcore, tanto que nosso primeiro disco tem bastante música rápida nessa pegada. Nosso som fica nesse meio. Para quem ouve punk, com certeza vai dizer que é pop, mas, para quem está de fora, talvez soe pesado demais.

No começo, queríamos muito fazer uma parada mais street punk, mas pensando melhor não batia com o som que a gente ouvia, que é um lance mais melódico, como blink-182 e Green Day. Até pela idade que tínhamos, faltava maturidade pra fazer aquele tipo de música. Então acabamos levando mais para o lado do pop-punk, apesar de ainda ter essa vertente. Também, por um tempo rolou uma cena muito forte de metal em Americana, então a gente destoava muito e criamos o estilo de uma banda pop dentro da cidade.

Not Dead!: E como é a cena por lá? Com quem vocês tocam?

Hurry Up: A banda se formou pela cena que existia lá. Existia uma um evento chamado Festa Privada, que o Magüerbes fazia e a gente tentava entrar nas festas, mesmo sem poder, isso com uns 13 anos.

Hoje em dia, acho que a maioria dos eventos são os que a gente faz, mas finalmente tem outros lugares que fazem acontecer também. De bandas tem o Derrota, Organa, The 900... A cena de Americana sempre foi muito criativa e heterogênea. Tem bandas desde o metal até o folk e, às vezes, o estilo vem em ondas e um gênero se destaca mais.

Not Dead!: Vocês comentaram sobre produzir o próprio festival. Como é passar para esse lado?

Hurry Up: Foi algo que também rolou por necessidade. A gente não tinha onde tocar então começamos a fazer eventos. Por um tempo rolou uma seca e acabou se tornando uma parte de como a banda funciona e acaba fomentando a cena da cidade.

O HUP Fest veio muito da influência do Magüerbes, que trazia outras bandas pra tocar lá. A gente decidiu fazer a mesma coisa e passou de “não temos onde tocar então vamos criar um espaço”, para se tornar uma coisa maior. Se tornou um evento onde a gente mais divulga bandas e toca pouco.

Not Dead!: Falando um pouco do álbum agora, como foi o processo de criação?

Hurry Up: Longo! (risos). Estamos desde 2014 juntando as músicas até que o Ali Zaher (produtor) nos chamou para gravar no estúdio dele, que fica em Araraquara. A gente chegou a dormir por lá pois são duas horas de viagem entre as cidades.Fechamos com a ideia de gravar com umas oito músicas prontas e dali criamos mais algumas. O que prolongou também foi não estarmos com o nosso próprio estúdio, então tinha semana que a gente ensaiava com frequência, outras não. Mas no fim essa “demora” foi necessária para chegar ao som que queríamos.

Essa questão de sempre procurar o próprio espaço, seja para tocar ou ensaiar também demanda tempo. A gente alugou um espaço, montou um estúdio e começou a gerar uma grana com isso, além dos festivais. Acabou virando uma corporação. Por um lado, facilita porque não tem aquela preocupação de aproveitar o máximo do tempo que está pagando pelo uso do estúdio. Por outro, é mais uma coisa para administrar.

Quanto às músicas, elas falam realmente sobre o momento em que você entende que virou adulto. O primeiro álbum foi sobre a transição entre ser adolescente e adulto. Agora não, estamos totalmente mergulhados nessa fase. E empatia é um sentimento que você tem que levar para a vida adulta.

Not Dead!: Como vocês decidiram quais temas seriam abordados e como eles seriam inseridos nas letras?

Hurry Up: Quem faz as letras somos eu (Bruno) e o Lucas. A gente escreve o tempo todo. No meu caso, as músicas sobre depressão foram as últimas que mostrei e foi bem difícil apresentar para eles. Foi durante a pré-gravação que a minha depressão chegou ao auge e eu escrevia coisas sem saber que tinha a doença.

Assim, percebi que precisamos falar sobre isso e fugir dos clichês de sempre. Sempre toquei para me expressar e naquele momento existia algo que me incomodava então porque não colocar na banda.

Nossa música sempre foi muito confessional. Foi assim que a gente aprendeu a ouvir música, escutando o cara e pensando em como ele estava se sentindo, se colocando no lugar dele. Colocando o coração na mesa.

Not Dead!: Como tem sido o feedback?

Hurry Up: Bem legais! (risos). Pelo menos, ninguém disse que não gostou. Tem gente que disse não ser o tipo de música que gosta, mas que ficou foda. Era algo para nós e nesse ponto deu certo. A gente fica muito feliz em saber que mais pessoas curtiram.

Not Dead!: E falando em amadurecer, o que sentiram de mudança desde o momento de entrar em estúdio até os objetivos que queriam alcançar com o disco?

Hurry Up: Nossa, que difícil! De novo, é algo tão natural, que a gente faz porque gosta. Sei lá, a gente via que as pessoas curtiam as músicas e quis ver como seria a resposta dessa fase nova.

Às vezes, você nem tem que ter pretensões e chega uma hora que acontece. Esse álbum que gravamos com o Ali, por exemplo, aconteceu do nada: ele nos proporcionou uma estrutura sensacional e a gente não fez nada além de continuar fazendo o que gostamos. Ele nos viu tocar, nos chamou e fizemos juntos um disco que ficou do caralho.

Outro ponto legal foi ver a diferença entre a primeira e segunda vez no estúdio. Ficamos cinco anos tocando entre as gravações, estamos melhores, mais entrosados um com o outro, sem meias palavras.

Not Dead!: Vocês tiveram alguma banda ou gênero como norte para a produção do disco?

Hurry Up: Vários! Foi uma junção do que cada um ouve. Eu (Bruno) puxei um riff de uma banda francesa chamada Sport, num outro pensei em uma coisa mais do Millencolin. Aí o Claudio traz referência de vários bateristas.

A gente sempre vai dialogando, tentando colocar um pouquinho de cada um. Eu (Lucas) sempre gostei um som mais pop e de midwest emo, sou pirado nas guitarras levinhas do American Football e misturamos com uma bateria mais rápida, por exemplo, e vê no que dá.

Not Dead!: E por que dois idiomas nas composições?

Hurry Up: Tanto eu (Bruno) quanto o Lucas, passamos um tempo fora e a nossa cabeça funciona assim. Às vezes, simplesmente sai em inglês e, às vezes, em português. Não tem um botão e nas partes em que a gente mistura é isso de você começar a escrever de um jeito e perceber que encaixa melhor de outro.

Not Dead!: Vocês sentem que é orgânico compor em inglês ou não tem diferença?

Hurry Up: Como é um som que vem de fora, a gente ainda briga muito pra fazer em português e que soe natural, mas conseguimos fazer isso com as músicas do “Empatia. Tanto que hoje conversamos sobre isso com o Márcio (do Dinamite Clube), quando você escreve em português você realmente fala com a pessoa.

Tenho certeza que tem muitos sons em inglês com letras importantes para nós, bastante confessional com as quais as pessoas podem se “empatizar”, mas que talvez não venha acontecer pela barreira da língua. Só que quando você está compondo, às vezes, vem uma frase em inglês que pode se tornar o mote da música inteira e depois você precisa de quatro ou cinco frases para trazer de volta para o português ou precisa traduzir a rima, e fica complicado. Mas hoje, depois de ter lançado o “álbum”, percebemos realmente que é o português que fala com a galera.

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