Na prateleira dos discos favoritos de muita gente e de muitos fãs, “Pioneer”, o terceiro álbum de estúdio do The Maine, é um lançamento que marcou história para muita gente. Quase oito anos após a divulgação das músicas inéditas, a banda decidiu olhar para trás e celebrar o disco que também foi muito marcante para o próprio The Maine. O que antes era uma turnê com shows comemorativos que passaria por quatro cidades, se tornou uma data exclusiva em São Paulo, parte da experiência do Emo Carnival - evento de três dias (8, 9 e 10 de agosto) que começa com a apresentação de “Pioneer” mais uma afterparty, meet and greet e festival com um show da tour “You Are Ok” e de outros artistas. Por mais que “Pioneer” ainda não tenha completado a marca “redonda” dos 10 anos, é extremamente válido celebrar tudo que o álbum trouxe para a banda. O disco foi um dos trabalhos mais consistentes da carreira do The Maine e revolucionou a forma de os americanos fazerem música, lidarem com o lado business da indústria e se relacionarem com os fãs - especialmente os brasileiros. O disco foi gravado em duas etapas. Descontentes com o processo criativo dentro de gravadoras e com o excesso de toques de produtores nas músicas, a banda decidiu se isolar e viajar para o deserto para trabalhar em algo que fosse completamente a cara do The Maine. O vocalista John O’Callaghan, por exemplo, revelou que queria autonomia total para escrever. Os integrantes não avisaram os fãs nem a própria major, na época, a Warner, de seus planos. O baterista Pat Kirch disse que dessa forma a banda poderia falhar sem que o público ou o mercado soubesse, ou quem sabe criar algo extremamente excepcional. Depois de ter algumas músicas prontas, o The Maine viajou novamente para o meio do nada para gravar as músicas que estiveram produzindo. Com as demos em mãos, os caras finalmente decidiram reaparecer para o selo. O The Maine então foi a Los Angeles e apresentou as músicas gravadas ao A&R da Warner. A gravadora rejeitou o trabalho, alegando que não refletia bem a linha que ela esperava da banda. Os músicos então, em vez de abaixarem a cabeça e refazer “Pioneer”, decidiram voltar ao estúdio para criar ainda mais músicas seguindo a mais nova identidade da banda. Surgiu então a necessidade de apresentar esse material ao fãs de alguma forma. Depois de enviar uma carta à gravadora pedindo o fim de contrato e resolver burocracias com o selo, a banda decidiu lançar as músicas sem o apoio de ninguém. “Pioneer” então foi o primeiro álbum independente da banda, que vinha da Fearless Records no lançamento de seu debut “Can’t Stop, Won’t Stop” e da Warner com o sophomore “Black & White”.
Apesar das mudanças radicais, o trabalho fez um barulho gigantesco. É até irônico porque “Pioneer” teve o pior desempenho comercial da história do The Maine e veio logo depois de “Black and White”, álbum com a maior repercussão mercadológica, que vendeu 22.634 cópias na primeira semana e atingiu a 16* posição na Billboard 200, “Pioneer” vendeu cerca de 12 mil cópias em sua primeira semana, estreando no número 90 da chart. Mesmo assim, seu resultado impressiona, pois foi alcançado pelo próprio mérito da banda e abriu espaço para que o The Maine conseguisse números consistentes nos próximos lançamentos (igualmente independentes), com “Forever Halloween” alcançando o número 39, “American Candy” a marca de 37, e “Lovely Little Lonely” a 32* posição. Mas os números de “Pioneer” não significam nada, pelo menos não para a banda e para os fãs. O baterista Pat Kirch explicou que o intuito desse álbum era explorar a química musical da banda e novas sonoridades. E a banda entregou de fato um álbum muito consistente aos fãs, que até hoje é lembrado com carinho.
Então, antes de consolidar a 81twentythree como um grande selo independente, a banda criou o selo Action Theory que era um embrião do que conheceríamos mais tarde. Em decorrência da recém liberdade criativa, com “Pioneer” a banda começou a apostar em composições mais maduras. No álbum, o The Maine abandonou de vez o pop-punk genérico e as letras mais simples para explorar o potencial poético de John O’Callaghan e novas melodias. O potencial artístico das inéditas, inclusive, marcam a banda até hoje, seja pelas melodias marcantes de “While Listening To Rock & Roll” e “Waiting For My Sun To Shine”, ou por letras impactantes de faixas como “Identify”, “Misery” e “Jenny” (deixando de mencionar aqui outras grandes músicas). Os laços com o público brasileiro também ficaram muito mais fortes com o lançamento de “Pioneer”. Antes do lançamento do disco, a banda havia feito apenas uma passagem pelo Brasil, de sucesso, diga-se de passagem. Obviamente as primeiras apresentações deram início a uma rotina de passar pelo país em cada era da banda que segue até hoje, apesar dos perrengues. Mas o The Maine surpreendeu a fanbase quando anunciou que a gravação de “Anthem For A Dying Breed”, primeiro DVD ao vivo dos americanos, seria gravado no Brasil. O registro marca as músicas dessa fase da banda, em que o grupo estava no auge artístico.
Além do show gravado em São Paulo, com registro ao vivo das músicas de “Pioneer”, o trabalho traz extras como clipes e um documentário sobre o processo criativo do álbum. Nas gravações de bastidores vemos uma banda livre pra criar. Isolados no deserto, os caras conseguiram fazer demos de nove músicas em seis dias. Levaram também mais nove dias para gravar as faixas selecionadas. O que também marca o The Maine com “Pioneer” é o gosto por superproduções. A banda gravou um mega clipe para a faixa “Misery”, que depois abriu espaço para outros grandes vídeos como “Taxi” e “Love & Drugs”. Ainda falando em clipes, a enérgica “Like We Did (Windows Down)” teve um registro divertido que veiculava constantemente na programação da antiga MTV Brasil - o que só reforça que foi com “Pioneer” que a banda abraçou o público brasileiro de vez!
“Pioneer & The Good Love” “Pioneer” vai além das 13 faixas da versão original do álbum. Como foi gravado em duas etapas, foi natural que o The Maine tivesse ainda mais músicas na manga para divulgar em uma extensão do disco. O trabalho se desmembrou e deu origem a “Pioneer & The Good Love” que foi anunciado enquanto a banda estava no Brasil, como uma versão deluxe. As novas sete músicas foram lançadas na webstore da banda, a 81twentythree. Faz parte dessa segunda parte a clássica “Take Me Dancing”, faixa que passa dos cinco minutos, é melancólica e que é toda conduzida no violão. Essa, inclusive, é uma das melhores letras do The Maine nessa fase, que prova que “Pioneer” abriu as portas para grandes coisas.