O Grayscale é uma daquelas bandas que não é reconhecida apenas pela sua qualidade musical. Além de ter alcançado uma popularidade significativa com apenas um full length, os caras sempre são lembrados e elogiados por imprimirem conceitos em cada projeto e por terem uma preocupação visual com cada produto da banda - desde as capas de álbum, às fotos promocionais, aos vídeo clipes e, claro, as tão desejadas peças de merchandising.
Por trás de tudo isso está uma figura que não é comum de encontrarmos em outras bandas: um diretor de arte. No caso do Grayscale, quem conduz esses conceitos, a identidade visual, a marca da banda e todos os seus produtos é Jordan Mizrahi.
Agora, com a banda ganhando ainda mais autonomia, lançando o seu segundo disco, "Nella Vita" - que sai no próximo dia 6 de setembro, e prestes a iniciar a sua primeira headlining tour, Jordan recebe muitos outros desafios. O diretor de arte dirigiu os dois clipes lançados até então, "Painkiller Weather" e "In Violet", se envolveu com a produção das fotos e capa do disco, e disse que está trabalhando em ideias com a banda para trazer experiências sensoriais aos fãs.
Nós convidamos Jordan para uma conversa sobre o papel de um diretor de arte para bandas na atualidade, o seu papel nos projetos do Grayscale, além de falar mais sobre a sua carreira. Você confere abaixo:
Not Dead!: Como você começou sua carreira? Jordan Mizrahi: Sempre tive interesse por design e no ensino médio trabalhava fazendo websites estranhos e projetos gráficos para igrejas locais e empresas de paisagismo. Eu era grato a qualquer pessoa que me deixasse praticar a minha arte. Era o que me mantinha e evitava que eu tivesse um "emprego normal”, coisa que sempre pareceu pra mim uma perda de tempo. Usar minhas habilidades e ajudar as pessoas a visualizarem o que elas imaginavam me animava. Cheguei a ir à universidade e me formar em Design Gráfico e Interativo na Temple University em 2016. Depois da graduação, comecei a fazer freelas com mais seriedade e trabalhei para grandes. clientes na indústria da moda e cosméticos, além de marcas do universo fitness e de lifestyle. Not Dead!: E como você passou desse universo para a cena de pop-punk? Jordan: Eu tocava em bandas quando era mais jovem, sendo que uma delas era com o Collin Walsh (vocalista do Grayscale), então sempre fui muito ligado à cena local enquanto estava crescendo. Muito do meu trabalho durante a faculdade girava em torno da música, em certo aspecto. Sempre foi um escape para a minha criatividade visual. Not Dead!: Falando no Collin, como você passou a trabalhar com o Grayscale? Aproveitando, eles sempre se preocuparam com os conceitos artísticos da banda? Jordan: Conheci o Collin quando ele foi transferido para a minha escola na quinta série e, desde então, somos amigos próximos. Como falei, a gente até tocou junto. No entanto, minhas habilidades com arte e design se sobressaíram ao meu talento como guitarrista. Sempre me preocupei mais em como o nosso MySpace estava visualmente, assim como nossos pôsteres de shows, nossas fotos promocionais, etc.. Depois do ensino médio, o Collin me procurou porque precisava de um design para o primeiro single da banda nova dele, chamada "Grayscale", uma música denominada "Colors." Enquanto estava na faculdade, trabalhei com ele em diversos projetos de vídeos pequenos, pôsteres de tours DIY, imagens de mídias sociais, e outras coisas pequenas.
Foi só em 2016, quando fomos morar juntos que começamos a trabalhar mais perto. Ele sempre teve um visão sobre cada projeto, mas não conhecia as formas de ver isso concluído. Então foi só começar a fazer tours que o trabalho começou a acumular, e ficou claro que precisávamos trabalhar juntos em tempo integral. Eu não poderia ficar mais empolgado! Not Dead!: A gente queria que você descrevesse o seu trabalho com a banda. Com que exatamente você se envolve? Cria peças do merch, faz fotos, videoclipes? Jordan: Basicamente tudo que você vê, como clipes, fotos, gráficos, designs de merch, website, quase tudo literalmente, é criado, dirigido artisticamente ou aprovado por mim. Por ser um designer de marca, eu tenho um padrão muito alto de consistência que permite que nossa identidade permaneça reconhecível conforme ela vai se transformando e crescendo. Quando sua marca é tocada por muitas mãos criativas, ela perde sua consistência e sua voz. Essas duas qualidades são extremamente importantes para o que o Grayscale é, então tudo que fazemos é analisado três ou quatro vezes, ou até que a gente veja que é exatamente o que queremos mostrar ao mundo. De certa forma, o mundo vê o Grayscale do jeito que eu vejo o Grayscale – e eu acho isso muito legal. Quanto ao merchandise, Collin e eu trabalhamos exaustivamente juntos pra criar nossos cronogramas e conceitos. Minhas habilidades de design são mais orientadas para design de tipografia, enquanto o trabalho mais gráfico é enviado para um alguns designers confiáveis com muitas referências para dar vida à nossa visão. Merch em si é um trabalho completamente separado, que vai dia e noite, e nunca termina. No entanto, esses projetos são os mais gratificantes!
Not Dead!: Além de se manter ocupado com o Grayscale, em quais outros projetos você está envolvido atualmente? Jordan: O Grayscale me deixa muito ocupado, então fica difícil abraçar outros projetos. Mas, quando eu posso, é renovador trabalhar em algo fora do mundo da música. Recentemente, fiz o design do the packaging para uma marca CBD e também estive muito envolvido com a Vans Warped Tour, em alguns materiais de marketing.
Not Dead!: E como é o seu processo criativo? Que coisas te inspiram? Jordan: Meu processo criativo meio que tem sua própria mente. Muitas vezes me deito na cama bem acordado enquanto meu cérebro fica maluco, ligando pontos em conceitos em que estou trabalhando. Sei que com o Collin a coisa é bem similar. Ele me liga às três da manhã para fazer um brainstorm de coisas em que estamos trabalhando porque ele sabe que estou acordado, batalhando com as mesmas ideias. Às vezes, tenho surtos de criatividade ultrajantes, saltando de um design de merchandising para o seguinte, e sairei disso com 10 designs completamente diferentes que duram meses. Sou muito grato a momentos assim, por que não sei quando uma visão virá tão clara pra mim desse jeito novamente. Quando chove, transborda! Not Dead!: O quão imerso você deve estar na banda para traduzir visualmente as ideias dos integrantes da maneira certa? Jordan: Essa é uma ótima pergunta, que é desafiadora de responder. Cada caso é diferente, existem muitas coisas que mudam de acordo com o jeito que cada banda se organiza. Existe muita troca entre a banda e o designer, as expectativas precisam estar alinhadas com as habilidades do profissional e as duas partes precisam trabalhar extremamente pesado. O que realmente importa é a colaboração e a conversa. Collin e eu, às vezes, conversamos sobre nossas ideias por horas, indo e voltando, até que lentamente elas ficam cada vez mais refinadas. É o segredo para chegar em um produto final que todo mundo fique empolgado. Quanto mais fundo você mergulha, mais percebe que existe muito a se considerar além do produto final. Quanto mais envolvido você está e mais as pessoas estão dispostas a dedicar tempo a uma ideia, o resultado ficará melhor. Not Dead!: Como a banda se envolve com o seu trabalho? Jordan: Na verdade, eles não fazem isso. Todos os integrantes têm habilidades em diferentes áreas de expertise e nós damos espaço para que cada um possa criar. A banda confia em mim para representar o Grayscale com o melhor das minhas habilidades. Uma vez que eu e o Collin decidimos que um vídeo ou design está pronto, é isso!
Not Dead!: É comum que as bandas da cena tenham no time um profissional como você, que atue como um diretor de arte? Jordan: Não mesmo! Como disse, sou muito sortudo de ter a relação que tenho com o Grayscale, dentro e fora da banda. Eles têm confiado em mim há bastante tempo – mas não foi fácil chegar nesse ponto. Muitas bandas começam sem ter como bancar um "diretor de arte" e acreditam que trabalhar tão cedo no conceito delas é besteira. Minha dica para qualquer um que queria se envolver na direção de arte de uma banda é começar enquanto o projeto é jovem e não perder de vista os objetivos que vocês querem alcançar juntos. Seja paciente e gentil, trabalhe com orgulho e aproveite a colaboração. Vai levar anos e anos, mas um dia a recompensa virá. Not Dead!: Pra você, qual é a importância de se preocupar em como o público verá a banda? Jordan: É a sua imagem. Sua reputação. Quero dizer, como isso não pode ser a coisa mais importante para não ter ninguém se preocupando com isso? Independente de gostarmos ou não, cada vez mais as bandas estão se tornando uma produção, além de apenas músicos. É empolgante, mas difícil. Você precisa ser excepcional em muitas outras categorias além da música que você espera que se destaque e engaje seu público nos dias de hoje. Not Dead!: Falando dos conceitos do Grayscale, o que podemos esperar da era Nella Vita? Jordan: Muitas coisas incríveis, mas que ainda não me sinto preparado para falar a respeito. Estamos sempre pensando em como podemos envolver os fãs de formas únicas e de dar a eles uma experiência sensorial completa. Todo mundo está se esforçando ao máximo para entregar o melhor criativamente. Not Dead!: Como você está contribuindo para essa fase do Grayscale? Jordan: Minha contribuição tem sido fotografar e fazer o design da arte de capa além do encarte. Fiz também as fotos promocionais. Produzi, dirigi e editei os clipes, dei apoio gráfico para muitos dos singles e algumas coisas divertidas sobre a turnê. Estive envolvido também com os bundles da pré-venda e muito muito muito mais!