WOW, WHAT A GREAT TOUR! É a frase que resume o fim de semana! Poucos são os momentos que nos sentimos tão bem quanto ao estar ao lado de amigos ouvindo uma banda que amamos tocar as músicas que fazem parte de nós. A recordação que fica dos últimos dias sem dúvidas é esse sentimento. A primeira vinda do Real Friends ao Brasil foi maior do que uma série de shows incríveis: foram lembretes do que realmente importa e fez a cena viver, apesar das dificuldades.
Da platéia que se entregou às apresentações desde os show de abertura do Phone Trio (RJ) e Never Too Late (SP), até a banda principal aproveitando bloquinhos de rua e comprando merch pirata, esta foi uma tour como nenhuma outra. E as surpresas começaram logo cedo, durante a primeira parada do Real Friends no Rio de Janeiro.
Nossa correspondente, Bárbara Araújo, encontrou com os músicos no hotel para entregar um presente - que se tornou parte do palco ao longo da turnê - e presenciou um momento de confusão. Acontece que, por um erro de impressão, os flyers diziam que a apresentação seria apenas no dia seguinte. Por isso os caras se espantaram ao descobrir que entrariam em ação dali algumas horas!
Mas nada que abalasse o bom humor dos americanos, antes de subir ao palco do Teatro Odisseia eles ficaram do lado de fora conversando e atendendo os fãs que aguardavam para entrar na casa.
E vamos aos show! A banda carioca Phone Trio foi a responsável por iniciar a noite. Com alguns minutos de antecedência, os caras subiram no palco ao som de “Fangs and Kalashnikovs” e foram recebidos por uma plateia ainda um pouco tímida, mas que aos poucos foi se soltando e cantando junto do trio.
Entre músicas um pouco mais antigas e do último EP “Sundae Tracks”, o vocalista Sal Oliveira ainda estreou “Voice Of Freedom”, uma nova canção que fala sobre o modo de viver do músico.
Ressaltando a atual dificuldade em realização de shows no Rio de Janeiro, a banda se despediu e agradeceu à produtora responsável pela - impecável - organização, Onstage Agência, pela oportunidade de dividir o palco com o Real Friends e por continuar levando bandas para a cidade.
Com uma platéia bastante animada, chegou a hora do Real Friends se apresentar. Kyle Fasel, David Knox, Eric Haines, Brian Blake e Dan Lambton - que entrou vestindo a bandeira do Brasil os dizeres “Wow, what a great day”, o presente ganho mais cedo - foram recebidos por muitos gritos e olhos brilhantes de fãs que esperaram muito por aquele momento. “Me First” foi a primeira a ter seus acordes entoados e logo foi devidamente acompanhada pela plateia. A banda, que afirmou em entrevista ao Not Dead! não saber o que esperar do público, já logo deixou claro com muitos sorrisos olhando a plateia que sabia que seria uma noite especial e calorosa.
Seguindo, o Real Friends apostou em “Get By” e revisitou canções mais antigas como “I Don’t Love You Anymore”, “Skin Deep”, “Skeletons” e “Floorboards”. O grupo voltou a tocar músicas do último álbum, “Composure”, e Dan, que já revelou ter ansiedade e bipolaridade, dedicou um momento para falar sobre saúde mental: “se você tem medo de se consultar com um profissional como um psicólogo ou um psiquiatra, não tenha. Eu vou e é bom pra caralho. Tem pessoas maravilhosas que ajudam.”
Em um outro momento de interação com o público, Dan contou sobre um episódio que antecedeu o show quando ele foi a um café na cidade e tentou fazer seu pedido em português e o barista o ajudou, o que é muito diferente dos Estados Unidos, segundo o próprio: “infelizmente, no meu país, muitas pessoas desrespeitam pessoas hispanoamericanas e que falam espanhol. Eles dizem ‘não sei, aprenda a porra do inglês, eu não quero aprender a sua língua’. Se nós fossemos um pouco mais abertos em relação à cultura de cada um... eu quero compartilhar mais, aprender mais, aceitar mais. Vocês se tornaram um exemplo fenomenal para mim e eu aprecio muito isso, muito obrigado!”
A troca de energia entre a banda e o público não poderia ter sido melhor. A felicidade em cima do palco e fora era nítida e a todo momento não só o Dan, mas o Kyle, David e Eric chegavam perto da platéia para cantar junto dos fãs. Fãs esses que aproveitaram cada segundo pulando, dando stage dive e no mosh pit de forma segura e respeitosa para todos que estavam ali, o que tornou a noite ainda mais marcante.
A noite de estreia deixou um gosto de quero mais para os músicos, que estavam animados para ver como seria a segunda apresentação, desta vez em São Paulo, para um público maior.
No sábado, os paulistas se recuperavam da The Pizza And The Party V quando uma mensagem da Solid colocou os ganhadores do meet and greet em alerta. O aviso era para que todos estivessem no local até às 17h, pois passado desse horário, não seria possível entrar até a abertura oficial das portas. O motivo? Um bloco de carnaval que aconteceria em frente à Jai Club no mesmo dia.
E o que poderia ter sido um problema, na verdade, se tornou uma das cenas mais memoráveis da turnê. Foliões e fãs se misturavam na rua Vergueiro, fazendo o meme “emos em contextos aleatórios” ganhar novo significado. Aproveitamos o momento para conversar brevemente com Dan que acompanhava a festa e nos disse estar feliz pela oportunidade de vivenciar uma parte tão importante da nossa cultura.
Lá dentro, o meet começou com um pequeno atraso pois era preciso passar pelo processo de abrir comanda antes de entrar no bar. Aliás, a única ressalva que faremos é essa. Por mais que a gente saiba que seja política da casa, essa movimentação deixou as coisas um pouco complicadas.
Mas o clima estava tão para cima que o incômodo foi deixado de lado pelos fãs ao ficarem frente à frente com os ídolos. Não acostumados com a receptividade do brasileiro, foi preciso alguns grupos para que os músicos deixassem de se assustar com os abraços entusiasmados que a galera queria dar. E, apesar de bem rápido, foi possível trocar algumas palavras e até inovar nas poses das fotos.
Um momento que vale destaque para o Not Dead! foi a interação entre alguns dos membros do Dinamite Club com o Real Friends. É sempre especial ver bandas que nós admiramos emocionadas ao encontrar os próprios ídolos e ocupar a posição que estamos tão acostumadas a preencher.
E falando em momentos marcantes, para a Never Too Late a missão de abrir a noite completou um ciclo iniciado quase três anos atrás, quando a banda lançou o primeiro disco, “No Return”, e incluíram o cover de “Loose Ends” na setlist.
Foi com “Walls” que os caras começaram a dominar o palco e ficou por conta da plateia fazer o chão tremer. Não demorou muito para o primeiro pit se formar. Até mesmo quem não conhecia o som estava curtindo o show como se fosse fã de carteirinha.
Quem acompanha a banda sabe que, entre uma música e outra, sempre rolam algumas piadas. Dessa vez não foi diferente e em determinado ponto até mesmo os amigos que estavam na pista relembraram acontecimentos da trajetória do quarteto. Dando assim o tom da noite desde a primeira apresentação: mais que um show, o que presenciamos foi uma reunião de amigos e amantes de música.
Para quem, como nós, está esperando o segundo álbum ser lançado, a primeira inédita, “Maze”, foi apresentada e pelo jeito agradou o público. O show seguiu com músicas já conhecidas e em “May The Force Be With you” Bruno Peras, do Dinamite Club, subiu ao palco para dividir os vocais com Gustavo Kalili, na música que considera a melhor da banda. Rolou ainda um cover de "Rock Bottom", do Modern Baseball. E o encerramento não podia ser outro além de “Double Trouble”
Provando mais uma vez ser uma banda humilde, os próprios amigos reais montaram o palco e ajustaram o que foi preciso para a apresentação principal. Enquanto Brian ajeitava a bateria fãs aproveitaram para pedir que “Cold Quicker” fosse incluída na setlist, o músico bem humorado brincou com quem estava na primeira fileira e entre risadas negou o pedido.
Sob um coro de “OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, REAL FRIENDS, REAL FRIENDS” o quinteto subiu ao palco visivelmente impressionado com a recepção do público. Ao longo do set, que se manteve o mesmo apresentado no Rio, a banda interagiu cada vez mais, sempre devolvendo a energia e entusiasmo que recebia.
Entre uma música e outra Dan conversou bastante com a platéia, contou como foi o primeiro dia em solo brasileiro, agradeceu mais uma vez a hospitalidade e várias vezes afirmou estar feliz pela oportunidade de conhecer o Brasil e nossa cultura. Apesar do pouco tempo disponível para turismo, os caras puderam viver um pouco do rolê paulista pois a produção os levou ao Prime Dog, lanchonete que é parada obrigatória por aqui. A menção de um lugar tão presente na vida do pop-punker paulista (e até mesmo na daqueles de fora do estado mas que sempre viajam para acompanhar turnês) fez com que a casa fosse à loucura!
Dizer que emoção estava à flor da pele não faz jus ao feeling que tomava conta de cada um presente, a entrega da banda e do público foi completa e crescia a cada música. Em “I’ve Given Up On You” presenciamos um dos momentos mais marcantes da noite, quando a platéia tomou frente e entoou os versos da canção, deixando principalmente o vocalista momentaneamente sem palavras.
Mas, infelizmente tudo o que é bom dura pouco e as faixas finais “Mess” e “From The Outside” não demoraram a chegar. Durante a primeira o guitarrista David ajoelhou-se para cantar cara a cara com os fãs, o que obviamente fez o fluxo de lágrimas ainda mais intenso.
E mais uma vez agradecendo a banda se despediu de São Paulo enquanto da pista surgia um core pedindo mais uma música. Vale ressaltar que o respeito foi lei e apesar dos muitos stage dives, pits e crowd surfing tudo rolou de forma cuidadosa para que incidentes não atrapalhassem a vibe. Fica a esperança que essa consciência de manter o role saudável continue pelos shows que estão por vir.
Seguindo ao sul, Curitiba foi a última cidade brasileira a receber o Real Friends. A apresentação teve uma proporção menor em relação ao show de São Paulo, que quase deu sold out, mas foi muito intimista e intensa por causa da plateia.
Organizado pela Torino Entretenimento, todas as ações propostas aconteceram pontualmente e até estendidas, como no caso do meet and greet. Como o público era menor, foi tranquilo para todos os fãs conseguir bater um papo e tirar fotos com os integrantes, que circulavam livremente pela pista. Inclusive, foi nessa ocasião que conseguimos conversar com Kyle sobre a passagem pelo Brasil e o “Composure”.
Inclusive, vale frisar que muitos dos rostos vistos no show de Curitiba também estavam presentes na data Paulista. Muitos optaram por fazer a viagem para ter a chance de ver um show mais íntimo, conversar melhor com a banda, rever amigos do sul e até conhecer novas pessoas.
Dan, durante o show destacou esse ponto e perguntou à plateia quantos ali já tinham conhecido bons amigos em shows. Muitos estenderam as mãos, mas o vocalista ressaltou que o show da banda no Brasil era a oportunidade perfeita para conhecer novas pessoas, trocar ideia e viver realmente como uma grande comunidade que se importa com o próximo. Podemos garantir que essa troca aconteceu diversas vezes entre estranhos!
De volta ao show, que seguiu à risca a setlist das outras cidades, ficou nítida a entrega do público, que mais uma vez se divertiu com os circle pits e stage dives, sem causar grandes transtornos ao resto da galera.
Também rolou uma troca muito intensa entre o público e Kyle, que sempre chegava mais perto da plateia para entoar versos icônicos como a introdução de “Summer”, o clássico “if you never break you'll never know how to put yourself back together” ou então “you can anchor down your feet and say ‘fuck the past and everyone that dragged you here’”.
Outro momento que mostra o quanto o Real Friends estava se sentindo bem em nosso país foi quando os caras começaram a fazer piadas sobre vir ao Brasil e interagir com piadas que vinham da plateia, como “Come Here”.
Mas se pudéssemos escolher o momento mais icônico do show foi com certeza a parte em que a banda escolheu um fã para tocar guitarra no palco. Kyle disse que era pra compensar a falta de banda de abertura na cidade curitibana e abriu espaço para que o “novo membro do Real Friends” solasse.
Assim, o Real Friends abriu espaço para as duas músicas derradeiras do set e encerrou sua passagem pelo Brasil, prometendo voltar e espalhar essa ideia entre outras bandas do gênero, para que a gente viva momentos tão inesquecíveis mais de uma vez ao ano.
A Composure Tour segue por mais alguns dias na América Latina. Argentina, Chile e México são os próximos países a sentir o que o Brasil viveu neste fim de semana.
Setlist:
Phone Trio
Fangs and Kalashnikovs Hometown Meltdown Barley Wine Lincoln Center King of Me Sundae Tracks Crystal Clear Say Goodbye to London Voice of Freedom (acústica - inédita) Fur Eye So Divine Milo Garage Chair Tea
Never Too Late
Walls
Lack Of Hero
Take The Risk
Opposite
Maze
May The Force
Never Tell Me
Rock Bottom (Modern Baseball cover)
Worst Case
Double Trouble
Real Friends
Me Frist
Get By
I Don't Love You Anymore
Skin Deep
Skeletons
Floorboards
Unconditional Love
Composure
I've Given Up On You
Summer
Loose Ends
Anchor Down
Mess
From The Outside
Fotos: Allan Carvalho/Dayane Mello/ Mariana Ribeiro