“É um milagre estarmos aqui”, disse John O’Callaghan, vocalista do The Maine, quando a banda caminhava para o final do primeiro show em São Paulo na última quinta-feira (8), no Carioca Club.
A banda tinha passagem confirmada pelo Brasil em junho, quando anunciou uma tour por quatro cidades brasileiras para tocar músicas do álbum “Pioneer”. De lá pra cá, a turnê quase caiu, sofreu mudanças nas plataformas de vendas de ingressos e na organização (passando a ser assumida pela Solid Music), mas ganhou um desdobramento positivo para os fãs: o Emo Carnival.
A tour do “Pioneer” virou um evento de três dias, com um show comemorativo do álbum, meet and greet e um festival com artistas da 81twentythree, o selo que o The Maine toca de forma independente.
Nós acompanhamos cada detalhe do Emo Carnival e contamos abaixo pra você tudo que rolou nos eventos
Nick Santino, Joel Kanitz e The Maine tocando “Pioneer”
Os fãs saudosistas que criaram expectativa para ouvir “Pioneer” na íntegra ganharam uma noite bem nostálgica. O plano inicial de tocar o álbum na íntegra para fãs brasileiros foi mantido e reservado para a primeira noite dos eventos. Mas o saudosismo não ficou apenas na setlist do The Maine.
Poucos dias antes do show, a produtora anunciou uma surpresa: Nick Santino, que tocaria apenas na última noite, também faria uma apresentação na quinta-feira. Relembrando os hits do A Rocket To The Moon acompanhado de um teclado, o músico provou que a banda deixou muitos fãs no Brasil, ao ser acompanhado em uníssono pela multidão em músicas como “Dakota” e “Like We Used To”.
O show de Nick acabou acontecendo mais cedo que o esperado, fazendo com que alguns fãs perdessem o set completo.
Mas a mudança de horários aconteceu por causa de outra surpresa. Joel Kanitz, antigo vocalista do This Century, subiu ao palco, sendo acompanhado pela plateia do começo ao fim, já que a curta setlist foi preenchida na primeira noite com faixas da banda.
A casa foi à completa loucura quando o nome principal da noite subiu ao palco, sem figurino especial, como nos velhos tempos. Quando finalmente os primeiros acordes de "Identify" ganharam vida e os telões exibiram a palavra "Pioneer", fizeram com que o trecho “3…2...1, here come the fireworks baby” ganhassem um novo peso.
A faixa que abre um dos álbuns mais importantes da carreira do grupo foi entoada com tanto fervor pela plateia que em alguns momentos não foi possível escutar a voz de John O’Callaghan.
Quase como se fosse uma reprodução integral do disco, o set seguiu a ordem das faixas, e, diferente do que geralmente acontece nos shows do grupo, a interação aconteceu de forma mais sutil, com John constantemente chegando próximo aos fãs e quase declamando as letras cara a cara.
Durante os momentos de destaque para o instrumental o frontman aproveitou para brincar com a galera. Em “Some Days”, por exemplo, foi a vez de colocar o gingado à prova e desafiar a plateia a fazer o mesmo.
Quando os integrantes decidiram interromper o andamento das faixas para dialogar com o público veio uma declaração apaixonada pelo país.
“Esse é um lugar especial para nossa banda. Ninguém no mundo nos ama como os brasileiros” disse John, ao relembrar as dificuldades de trazer o The Maine ao Brasil e ao fazer brincadeiras sobre as reclamações de alguns fãs com a falta de informação durante o processo de transição.
A performance da banda durante a execução de “Pioneer” foi impecável, praticamente como em estúdio. O álbum, por ter sido feito de forma autônoma, permite que os músicos se desafiem e incluam jams na apresentação.
O público também deu um show à parte, cantando cada faixa de “Pioneer” do começo ao fim, não ficando apenas nos singles. Inclusive, as faixas que mais empolgaram o público foram as que não são trocadas com frequência, como “Time” e “When I’m At Home”. Isso só prova que, com o passar do tempo, o disco virou um verdadeiro clássico!
“Like We Did” e “Waiting For My Sun To Shine” merecem destaque por motivos bem distintos e que no todo fizeram da apresentação ainda mais memorável. Durante a primeira, o guitarrista Kennedy Brock assumiu rapidamente os vocais na primeira parte da canção e talvez tenha deixado alguns fãs sem voz dado o volume da resposta. Já a última contou com o apoio visual do painel eletrônico para transportar a galera para um fim de tarde ensolarado do Arizona enquanto o show caminhava para os momentos finais.
Com a conclusão de “Pioneer”, o público praticamente obrigou a banda a tocar uma faixa extra desta era do The Maine. Apesar de nunca ter sido trabalhada oficialmente, é um clássico para os fãs: “Take Me Dancing”. John conduziu a música sozinho com uma guitarra e brincou com os fãs dizendo que não lembrava da faixa direito, mas que também não precisava de ajuda. Logo em seguida, no entanto, ele topou ser acompanhado pelo público que não errou nenhum verso da música e tomou o refrão final para si.
Para o encore, o The Maine retornou com “Slip The Noose”, realmente transformando o show em uma experiência quase religiosa, como já comentou o baterista Pat Kirch no Twitter. A banda também emendou outros singles de “You Are Ok”, último lançamento do The Maine, que, inclusive, foi entoado até mais alto que as faixas de “Pioneer”. Estaria então o novo disco no caminho para também virar um clássico?
Antes da faixa final, “Black Butterflies & Déjà Vu”, um das mais queridas do álbum “Lovely Little Lonely”, John mais uma vez dedicou alguns minutos para conversar com a platéia. Dessa vez, o músico deixou um desafio aos presentes. “Quero que vocês se desafiem a serem gentis uns com os outros, a terem compaixão e aceitarem as diferenças. Seja por raça, religião ou opção sexual.”
Afterparty
A quinta-feira ainda reservou mais um momento especial. The Maine, Nick Santino e Joel Kanitz retornaram juntos ao palco para, o que foi sem dúvidas, a hora mais absurda desses três dias de evento. E dizemos isso no melhor dos sentidos.
A zoeira foi liberada enquanto os caras se revezavam na pick up, assumiam o lado DJ e simplesmente perdiam a linha. Rolou de tudo: selfies com a galera, dança, crowd surf por parte de Pat e Nick, e o baixista Garrett Nickelsen incorporando Freddie Mercury ao som de Queen. Até mesmo Tim Kirch, o manager da banda, participou da bagunça.
O ponto alto ficou por conta daquilo que não pode faltar numa festa atualmente: funk carioca.
Meet and greet
É de conhecimento geral que os músicos atendem todos os fãs que vão ao aeroporto e hotel (sempre lotados!), mas ainda assim, o The Maine faz questão de receber os pagantes de ingressos, mesmo que de forma rápida, para um meet and greet.
Seguindo a tradição que já acompanha as vindas do The Maine ao Brasil nas últimas três passagens, a banda separou a sexta-feira para atender fãs no Carioca Club.
O meet and greet aconteceu sem grandes problemas, a não ser pela data - uma sexta-feira, que impediu muitos fãs de participar por causa de compromissos pessoais. Mas quem compareceu encontrou filas moderadas e pôde abraçar e cumprimentar rapidamente o The Maine, além de Nick Santino e Joel Kanitz.
Emo Carnival
Para o Emo Carnival, o The Maine fez questão de trazer para o Brasil pela primeira vez uma experiência similar ao que acontece nos shows americanos da banda. A espera que sempre faz parte de qualquer show ganhou uma nova dinâmica: um painel decorado com pôsteres de “You Are Ok” e até mesmo bóias em formato de unicórnio, melancia e abacaxi foram colocados em um espaço reservado para a galera fotografar à vontade.
O tempo livre, no entanto, não durou muito. A primeira atração do dia, Adam Simons, subiu ao palco por volta das 16h. Com o pop eletrônico do Wanderer, o músico foi a opção certa para dar início ao festival e animar a plateia que já crescia.
Com cerca de cinco músicas, a apresentação empolgou quem estava presente, alguns claramente satisfeitos pela oportunidade de assistir ao show do músico.
Mais tarde, Adam, que também acompanha o The Maine como instrumentista de apoio, deu uma passada pela mesa de merch para atender fãs e distribuir adesivos do Wanderer. Facilmente, com a simpatia e carisma, ele fidelizou alguns fãs por São Paulo.
O formato acústico fez com que a troca de atos fosse rápida. Em pouco minutos, Joel Kanitz iniciou o segundo set, mais uma vez relembrando o This Century.
Dessa vez, algumas músicas queridinhas dos brasileiros (como “Seven” e “Bleach Blonde”) ficaram de fora. Mas, ainda assim, Joel fez jus à história do This Century. O artista também abriu espaço para o Gorgeous War na apresentação, performando o single “In My Room”.
Em seguida, também de forma dinâmica, veio Nick Santino. Novamente acompanhando de um teclado, ele tocou singles do A Rocket To The Moon e de seu álbum solo “Big Skies”, deixando de lado músicas de Nick Santino & The Northern Wind e do Beach Weather, infelizmente.
Mas isso não significa que a apresentação não foi especial. Ao longo de “Long Way Home”, o palco foi invadido por Pat e Garrett, que acompanharam Nick com chocalho e meia-lua na faixa que originalmente conta com participação do The Maine.
Depois, quando Nick concluía o show com os hits de sua banda principal, Pat filmava o show. Notamos que o baterista estava no FaceTime com Eric Halvorsen, também ex-integrante do A Rocket To The Moon. Na plateia, a reação foi de pura surpresa e de carinho, com gritos ensurdecedores enquanto Nick mostrava a tela aos fãs próximos do palco.
Não custa sonhar um pouco, mas se o The Maine foi capaz de fazer Nick Santino retornar aos palcos para o Emo Carnival, quem sabe a plateia não tenha convencido o vocalista e Halvo para um comeback do A Rocket To The Moon.
Com a finalização dos sets intimistas, foi hora das bandas plugadas entrarem em ação, com o The Technicolors.
Escolha certeira para anteceder The Maine, a sonoridade alternativa característica da banda animou o público que contava com vários fãs frenéticos com a apresentação.
O set dos caras durou um pouco mais do que o dos demais convidados e até mesmo para quem não acompanha ou curte som indie foi um show pra ninguém colocar defeito.
Retomando de onde parou na quinta-feira, o The Maine entrou ao som de “Black Butterflies & Déjà Vu”, seguida de singles de “You Are Ok”. Também inspirada nas tours gringas, a banda subiu ao palco com figurino combinado e cenografia de alto padrão, com imagens criativas e impactantes no telão, remetendo a cada era apresentada.
Para o último dia de Emo Carnival, a banda repetiu algumas coisas do primeiro show, como as faixas “When I’m At Home” e “Misery”, do “Pioneer”, assim como faixas do novo álbum. Se por um lado a repetição foi um “desperdício” de espaço, por outro provou que os caras quiseram compensar fãs que perderam a primeira noite de shows.
Seguindo o tom nostálgico da primeira noite, o The Maine trouxe "We All Roll Along". O momento foi um dos mais marcantes do evento, quando o verso "8123 means everything to me" ganhou força força na plateia e arrancou sorrisos dos músicos.
Já a execução de “Broken Parts” dividiu opiniões. Apesar de emocionar muita gente na plateia, não funcionou bem no todo, como “Slip The Noose” e “My Best Habit”. A música diminuiu a energia da galera.
Na sequência a banda decidiu incluir "Girls Do What They Want”, apesar da faixa gerar desagrado até mesmo nos fãs mais fiéis. A música com data de validade vencida foi o ponto baixo da noite.
Ainda batendo em uma velha tecla, John convidou uma pessoa ao palco para cantar o refrão. O escolhido claramente estava apenas acompanhando alguém e não conhecia a letra. O convidado aceitou entrar na brincadeira, mas o desconforto era visível, lembrando um episódio de um dos primeiros shows do The Maine no Brasil em que uma garota também se confundiu com os versos.
Também sentimos falta de faixas do disco “Forever Halloween”, sempre esquecido pela banda em apresentações ao vivo.
Já nos pontos positivos destacamos o fato de a banda ter escolhido faixas enérgicas e dançantes como “Am I Pretty?”, “Don’t Come Down” e “Miles Away”, assim como músicas mais profundas como “How Do You Feel?” e “(Un)Lost”.
A finalização com “Another Night On Mars” também foi um show à parte, com toda a plateia cantando à capela e abraçada nos amigos, provando que a 81twentythree realmente formou uma família em volta do mundo todo. E aproveitando a chance final, John se jogou nos braços dos fãs.
Com as cortinas já fechando Kennedy, que ao longo da passagem conversou o máximo possível em português, retornou rapidamente ao palco para dar um último recado que resume muito bem o que foram esses três dias: tudo pra mim!