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Oxigênio Festival: edição 2019 mostra pluralidade e força da cena alternativa

Gabrielli Salviano e Michelly Souza

Nadar contra a corrente é um dos pilares do underground, mas, em um mundo cheio de entretenimento a um toque na tela de distância, é preciso muita coragem e trabalho para criar algo especial o suficiente para fazer com que as pessoas saiam casa.

Quando a missão é engajar o público em um festival de três dias então é necessário trazer atrações imperdíveis e atividades extra interessantes. Ainda mais considerando que o público está cada vez mais ávido pela tal da experiência.

E essas são apenas as preocupações básicas. Agora acrescente o fato de que não estamos falando de um Lollapalooza ou o Rock In Rio, eventos em que patrocinadores disputam a chance de atrelar seus nomes ao festival e tornam muito mais fácil colocar os planos em ação.

O caso aqui é bem mais nichado e voltado para gêneros e bandas normalmente deixadas de lado por grandes produções. Tudo isso pela sede de dar ao underground o espaço que merece. Isso é o Oxigênio Festival. Foram três dias de música, pluralidade, alguns perrengues e a certeza de que a cena independente resiste e tem muito a oferecer.

Como foi a sexta edição do Oxigênio Festival?

Estruturada no espaço da Via Matarazzo, em São Paulo, a edição deste ano foi, sem dúvida, diferente das anteriores principalmente por abrir as portas para nomes fora do eixo punk - hardcore.

Como os responsáveis pelo evento explicaram durante a conferência de imprensa para anúncio do line up, a decisão de ser mais amplo e diversificado veio da necessidade de permanecer atualizado e interessante.

A escolha fez o line up ficar quase que inédito. Das 37 atrações apenas seis já haviam passado pelos palcos.

Para acompanhar os veteranos, a produção convidou representantes de todos os lados. Do rock psicodélico/indie do Codinome Winchester, ao folk de Terra Celta e do O Bardo E O Banjo e o som cheio de misturas de Teco Martins ॐ Sala Espacial, Big Up e Braza. Mas não se engane, a alma de Oxigênio estava lá e muito bem representada. O palco principal foi iniciado por Bayside Kings, seguido pelo retorno do Sugar Kane, que trouxe música inédita, e o Dead Fish, que tocou seu mais recente trabalho "Ponto Cego" na íntegra.

Já o velho conhecido da organização, CPM 22, resgatou clássicos como "Não Sei Viver Sem Ter Você" e "O Mundo Dá Voltas" para a apresentação. E pelas palavras do público acompanhou os caras no ano passado, "o show dessa vez foi muito melhor, teve mais energia".

A primeira noite deu o tom do fim de semana: enérgico, nostálgico e cheio de protestos.

No dia seguinte foi a vez de Ratos De Porão, Molho Negro, Gloria, Pense e Rivets representaram hardcore e o punk nacional. Neste último show, a nossa equipe viu Danilo Cutrim, do Braza, curtindo os conterrâneos no meio do pit antes de se juntar a eles no palco.

Momentos como esse são a alma do festival, a linha sutil que divide ídolo e fã desaparece transformando a atmosfera. O Not Dead! ouviu diversos relatos eufóricos de quem criou memórias ao lado de músicos que admira tendo a banda favorita como trilha sonora.

O último dia foi o mais nostálgico. Riocore se fez presente por completo com Darvin e Dibob. Descendo um pouco no mapa, o Granada fez seu grande retorno e aproveitou a oportunidade para anunciar a volta oficial da banda. A felicidade dos integrantes era tangível, principalmente do vocalista e fundador, Yuri Nishida, que deixou a emoção tomar conta e se entregou a plateia nos momentos finais.

Destaques

Nesta edição, a maioria das bandas aproveitou para deixar mensagens de protesto sobre o contexto político brasileiro. O Dead Fish tocou músicas que falam sobre episódios recentes e o Sugar Kane trouxe uma música sobre as queimadas da Amazônia.

Assim como o show de bandas como Armada, cujo line up traz punks veteranos no Blind Pigs cheios de ironia sobre o governo, o set do Pense foi recheado de crítica social, como sempre.

Vale ressaltar que a banda perdeu o tempo de pelo menos duas músicas para se certificar de que um fã machucado no pit fosse atendido pela equipe de socorristas do local e teve total apoio e colaboração da platéia.

As bandas lideradas por meninas também gritaram alto. O Sapataria, banda que venceu a votação popular e abriu o festival no domingo, representou o ativismo homossexual, assim como a banda Charlotte Matou Um Cara que deu o tom do feminismo.

As mulheres também mostraram presença durante o show do Braza, na noite anterior, ao pedir um momento só delas na roda. A banda endossou o chamado e quem estava na pista assegurou que elas tivessem o espaço para si.

O festival não é só música Além dos shows a Vans, principal patrocinadora, mais uma vez caprichou nas atividades extras. Entre um show e outro a galera pôde se divertir com os arcades, photo booth e workshops. As oficinas sempre trazem a essência do movimento independente e este ano o destaque fica para a confecção de zines. Quem passou pelo stand conheceu um pouco sobre a história dessas publicações antes de confeccionar sua própria revista no do it yourself. Para registrar o momento, uma boa foto é indispensável por isso a marca disponibilizou uma cabine fotográfica para o público caprichar nas caras e bocas. Mas quem gosta de skate e esperava arriscar umas manobras ficou na vontade. A mini rampa presente em edições anteriores não foi colocada desta vez por motivos de segurança.

Já para os amantes de música, uma das novidades do ano foi um karaokê conduzido por músicos conhecidos do underground. A atividade deixou o festival muito mais divertido, por levar a experiência dos palcos a anônimos e humanizar ainda mais a figura das bandas do universo.

Imprevistos Ao longo da sexta-feira e do sábado, o público se dividiu entre os shows e as atividades sem grandes problemas, além de pequenos atrasos nos palcos e na abertura na casa. Mas no domingo, a organização enfrentou alguns desafios depois que a energia do palco principal caiu, no meio do show da banda Strike. O incidente encerrou a apresentação da banda de repente, que já estava na reta final, e atrasou a programação do palco que ainda teria apresentações do Far From Alaska e do Francisco El Hombre. Enquanto o público dos headliners ficava sem entender o que aconteceu, o show seguiu normalmente no palco menor, mas logo a energia dele teve que ser cortada para que o problema fosse resolvido com maior agilidade. Depois de cerca de uma hora e meia, a música retornou ao palco menor, mas a programação do espaço maior foi cancelada, já que alguns equipamentos foram gravemente comprometidos. Na correria, a organização optou por remarcar o show do Far From Alaska na The House, exclusivo para quem estava presente no domingo, e o Francisco El Hombre se apresentou na pista, a capella, de um jeito inusitado. O Hangar 110 e a Gig Music ainda informaram que os fãs que se sentiram prejudicados poderiam solicitar reembolso.

Apesar da decepção estampada no rosto de muitos e das reclamações, a maior parte do público afetado soube entender o lado da produção cujo trabalho foi muito além dos dias de evento.

Por conta dos imprevistos quem assumiu a responsabilidade de encerrar a edição 2019 do Oxigênio Festival foi o Dibob, colocando fogo na pista do Side Stripe. Pelo gás que dominava o ambiente ninguém diria que boa parte da galera estava ali desde sexta-feira e gastava as últimas reservas de energia aproveitando cada segundo de música.

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