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Conheça o documentário que retrata a cena pop-punk nacional da atualidade

Michelly Souza

O que significa música para você? A trilha sonora para o dia-a-dia? Um hobby? O seu porto seguro? Para alguns a conexão é tão profunda que se torna uma carreira. E, desta vez, não estamos falando das nossas bandas favoritas, mas da galera que leva o apoio para outro nível e faz da profissão um meio de divulgar esses artistas.

Foi justamente o amor pela música, em especial, pelo pop-punk, que definiu a escolha da carioca Bárbara Araújo pelo jornalismo. Aos 22 anos, hoje ela chama São Paulo de lar e é autora do documentário “Independente De Tudo”, o único sobre o cenário nacional da atualidade.

Para produzir o filme, ela contou com depoimentos do Dinamite Club e Never Too Late, as principais bandas de pop-punk na cena paulista, além de nomes como o do produtor Gab Stacolin, responsável por lapidar muitos artistas nacionais. A jornalista confiou ao Not Dead! a missão de divulgar esse importante registro. Na entrevista abaixo, ela nos conta sobre os caminhos que a levaram até a escolha do tema e os bastidores da produção.

Not Dead!: Como começou a se envolver com o pop-punk?

Bárbara Araújo: Por influência do meu irmão mais velho. Eu era muito nova quando o movimento começou a aparecer nos anos 2000 e meu irmão era adolescente nessa época e dividia os gostos musicais comigo. Algumas coisas me marcaram, lembro de um CD chamado "Top Hits TVZ", em 2006, que tinha Yellowcard, Good Charlotte, The All-American Rejects, entre outros, que eu ouvia bastante.

Apesar de agora morar em São Paulo e de já ter visto muita banda tocar ao vivo, sou de Cabo Frio, uma cidade extremamente turística e bem pequena, e nem tudo chegava para a gente. Durante os meus dez ou 11 anos rolavam com certa frequência shows de bandas como Strike - minha banda favorita da época-, Forfun, Scracho, Emoponto, mas eu era muito nova e minha mãe barrava a minha ida. Então o mais próximo que chegava era escutando as músicas em casa, ouvindo o meu irmão contar como foi e ver o movimento das pessoas na frente da “casa de shows”, que, na verdade, era o Teatro Municipal, porque não tinha onde as bandas tocarem, quando ia com nossa mãe levar e buscá-lo. O ruído que saia lá de dentro trazia muito um frio na barriga que dizia "QUERO ESTAR LÁ!".

Na época, também, o Green Day havia recém-lançado o "American Idiot" e, definitivamente, foi um álbum crucial para que eu realmente virasse muito fã de tudo aquilo. Meu irmão tinha o DVD pirata do "Bullet In A Bible" e a gente deixava passando todos os dias e eu lembro perfeitamente de olhar o comportamento da banda e do público e ficar vidrada no que via, pois como não ia aos shows, nunca tinha visto nada igual.

Foi ele também quem me levou ao meu primeiro show de pop-punk, do All Time Low, em 2011, na Via Funchal.

Not Dead!: O gênero foi um dos motivos que fez você escolher o jornalismo?

Bárbara: Sim! Aos 15 anos, passei a manter um fã-site para o Tonight Alive, minha banda favorita. Eu gostava muito desse trabalho, de traduzir as entrevistas e atualizar as redes com notícias da banda. Nessa época estava no primeiro ano do Ensino Médio, ou seja, na fase de decidir o que prestar no vestibular. Quando descobri que cursando jornalismo eu poderia juntar meu amor por musica com a minha profissão, e o Tonight Alive Brasil meio que já era isso, não tive dúvidas de que era o que queria.

Not Dead!: Em que ponto essa relação deixou de ser só amor de fã para despertar a vontade de produzir conteúdo?

Bárbara: Cara, difícil responder, acho que só aconteceu. No Tonight Alive Brasil já rolava um conteúdo próprio. E assim que entrei na faculdade, em 2014, passei a ser colaboradora da Nação da Música e na faculdade, fiz parte da redação do jornal com circulação interna.

Not Dead!: Como surgiu a ideia do tema?

Bárbara: Como eu não sou de São Paulo, demorei para saber que existia uma cena aqui atualmente e me perguntava bastante como era ter uma banda num momento bem diferente, sabendo que muita coisa mudou dos anos 2000 para hoje. Eu via o trabalho das bandas e achava bem legal, então quis mostrar como elas fazem para se manter e desde o início da faculdade fui extremamente influenciada pelo documentário "Do Emo Ao Underground", do Daniel Ferro.

Not Dead!: Sentiu apoio dentro da universidade para desenvolver o tema? Bárbara: Estranhamente, muito! É engraçado porque achei que não teria nenhum, a gente mal falava de musica na faculdade de jornalismo, tudo ia muito para lado do social, econômico e tal. Eu sempre via a lista dos TCCs no fim do semestre e raramente tinha algum sobre música. Os meus amigos fizeram sobre esses temas e para mim parecia que falar sobre pop-punk era meio imaturo. Cheguei a conversar com o meu professor de projetos sobre isso e ele tirou isso da minha cabeça e me apoiou muito, assim como meu orientador.

Not Dead!: O que motivou você? Por que acha importante difundir esse estilo?

Bárbara: Principalmente, por achar que as bandas merecem um espaço maior e, também, por sempre ter desejado trabalhar com música. Cara, eu cresci tendo muita influência das bandas de pop-punk na minha vida e muito do que eu sou, acredito, e as minhas amizades estão diretamente ligadas ao estilo. Então acabou tendo um impacto positivo muito grande em mim e pode ser que outras pessoas possam sentir o mesmo.

Not Dead!: Quais foram as maiores dificuldades ao longo do projeto?

Bárbara: Não tive muitas dificuldades para ser sincera. Os caras do Dinamite e da Never Too Late foram muito abertos e me receberam bem todas as vezes, o que facilitou o processo. Mas encontrar material para usar como apoio no relatório foi quase uma missão impossível. Para ser sincera a maior dificuldade foi que entrei em depressão em setembro, mês que deu início a produção do TCC. Acho que não preciso entrar em detalhes sobre o que é viver com isso, mas a falta de vontade de fazer as coisas do dia a dia e a falta de perspectiva tiveram um impacto muito grande na produção. Eu fiquei muito mal e estava prestes a trancar a faculdade faltando 3 meses para entrega porque os 5 meses anteriores tinham sido muito difíceis e eu só tinha feito as filmagens no Hangar, mas o meu orientador me acolheu muito e resolvi tentar, no mesmo dia retomei contato com a Never Too Late e fui atrás do Dinamite. Bom, eu consegui e o que vocês estão assistindo é resultado de apenas dois meses de trabalho. E é engraçado que TCC geralmente deixa as pessoas surtadas, mas acabou me ajudando muito a melhorar do quadro em qu estava e foi divertido fazer. Deixei isso muito claro no meu relatório e um dos avaliadores da banca disse que o trabalho me serviu como uma terapia, o que tenho que concordar. As duas bandas tiveram um impacto muito bom em mim no processo, acabaram me ajudando muito mesmo e elas nem imaginavam isso.

Not Dead!: Sentiu dificuldade de encontrar materiais?

Bárbara: MUITA! Eu encontrava algumas poucas coisas em blogs que eu definitivamente não poderia usar como base para um TCC. Basicamente, como já sabia o que tinha que escrever e fui montando um quebra-cabeça com o que encontrava em sites que poderia usar.

Not Dead!: O que descobriu sobre a cena que mais te surpreendeu ou mostrou uma outra vertente que não conhecia?

Bárbara: Não sei explicar ao certo, o modo que vejo as bandas hoje mudou. Elas levam muito a sério tudo que fazem, obviamente, não imaginava o contrário, mas a proximidade tornou as coisas diferentes.

Not Dead!: Como foi trabalhar tão perto das bandas?

Bárbara: Eu me diverti muito e dei muita risada com eles. As duas bandas estavam com um clima muito bom. A Never Too Late conversa bastante e estava trabalhando nas músicas do novo álbum, então eles estavam bem animados com os ensaios e tudo mais. Os caras do Dinamite são engraçados. Gravei com eles nos ensaios e shows da turnê com o Neck Deep, então rolava aquela animação de estar abrindo a turnê completa de uma banda gringa que eles curtem muito, indo tocar em cidades que eles não tocam com frequência. Também foi legal que, apesar do Leon estar meio afastando cuidado da saúde dele, ele pode tocar em dois shows da turnê, então ver de perto a felicidade dos quatro de estarem tocando juntos foi bem emocionante, acho que nunca vou conseguir explicar direito.

Not Dead!: Desenvolveu o projeto sozinha?

Bárbara: Sim! Por lei do MEC, os TCCs de jornalismo têm que ser individuais. Então era basicamente só eu para desenvolver a ideia, entrevista, gravar, etc.. Mas o meu irmão é formado em Rádio e TV e trabalha como editor de vídeos, então eu ia editando da forma que queria e depois ele chegava com o olhar de editor deixando o vídeo mais leve e dando novas ideias. Além disso, como já mencionei, eu fiz ótimos amigos pelo gosto musical em comum. Eu sou bem fã do Dinamite e fazia tempo que não via show deles, então quis aproveitar os dois shows que fui da tour do Neck Deep, então contei com a ajuda dos meus amigos para filmar o show deles enquanto aproveitava. Os nomes que aparecem nos agradecimentos são deles, inclusive, e acho que ver o rostinho deles no público e os nomes nos créditos é a minha parte favorita.

Not Dead!: Agora, quais são os próximos passos? Bárbara: De longe a pergunta mais difícil! Produzir o documentário me fez ter certeza de que quero trabalhar com musica de alguma forma. Já vi uns cursos para fazer envolvendo musica que estão fora do meu alcance no momento, mas futuramente vou investir. É um mercado meio difícil de entrar e de se manter, eu acho, mas espero fazer parte.

Eu acabei de voltar de uma viagem em que pude vivenciar a Warped Tour, ir na turnê do Citizen com o Teenage Wrist, do Homesafe com o Hot Mulligan e do The Story So Far com o Taking Back Sunday que só me deram ainda mais vontade de me envolver com isso de alguma forma e até durante os shows me peguei pensando em formas de trabalhar com isso mas acabei de me formar e ainda tenho muito tempo pela frente.

Agora basta dar o play e conhecer um pouco mais sobre a nossa cena e tanto de dedicação que é preciso para manter pop-punk vivo no Brasil:

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