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Not Dead! entrevista: Dear Youth

Gabrielli Salviano

A gente está acostumado a falar por aqui sobre nomes nacionais, mas o que pouca gente sabe é que no Canadá existe uma banda de pop-punk que é ⅕ brasileira. Estamos falando sobre o Dear Youth, que está na estrada desde o final 2015 e conta com Eduardo Fonseca Arraes, o Duda, no baixo.

Mas o músico não é um nome aleatório na cena não. Duda ajudou a construir a história da cena punk rock carioca em meados de 2005, época em que tinha uma banda ao lado de Mateus Simões, hoje baixista do Phone Trio.

Inclusive, falando dos caras, vale ressaltar que além de ser amigo de longa data dos caras, o baixista do Dear Youth também passou brevemente pelo Phone Trio, no lugar de Mateus, quando ele havia saído da banda. Ou seja, está tudo relacionado!

De volta ao presente, hoje o músico mora em Montreal, na província de Quebec, e acabou se juntando à formação do recém criado Dear Youth, que defende o pop-punk na cidade mais francesa do Canadá. O quinteto, acabou de assinar contrato com um selo de Los Angeles, o Anchor EightyFour, e está se preparando para lançar o seu primeiro álbum de estúdio, após dois EPs circulando pela internet.

Em um pulo relâmpago pelo Brasil, conseguimos nos encontrar com Duda para conversar sobre as novidades do Dear Youth e a cena pop-punk canadense. O papo você confere abaixo:

Not Dead!: Pra começar queremos saber: como vocês se conheceram e a banda ganhou forma?

Duda: O vocalista e os dois guitarristas já se conheciam, são amigos de longa data e até já tiveram uma banda de metalcore antes. Depois, tiveram a ideia de formar uma banda de pop-punk, em 2015, e como eles não conheciam nenhum baixista e baterista, decidiram procurar na internet. Tem um site no Canadá, chamado Kijiji (espécie de classificado), eles publicaram lá, e o baterista e eu vimos o anúncio.

Na época, eu estava procurando uma banda e um amigo meu, que tem banda por lá, me disse pra procurar esse site. É meio estranho pra gente que tá acostumado a conhecer as pessoas ao vivo, mas funciona desse jeito lá e deu certo. A gente se encontrou, fez um testezinho no estúdio e teve uma vibe boa. Nós fomos ensaiando e foi assim que começou o Dear Youth.

Nesse tempo, a banda nem tinha nome, nós escolhemos juntos. Eles só tinham algumas demos, quatro ou cinco músicas mais ou menos prontas. Nós terminamos essas faixas, decidimos gravar um EPzinho rápido, só pra ter algo online.

Not Dead!: Acabou indo na contramão do jeito que as bandas normalmente se formam, não é?

Duda: Pois é. Os guitarristas e o vocalista se conheciam há um tempão, mas eu e o baterista caímos de paraquedas.

Not Dead!: Isso prejudicou o relacionamento de alguma forma ou a aproximação foi natural?

Duda: Não, foi ótimo. Eu já toquei com amigos de infância também. Acho só que pelo fato de a amizade não ser de longa data, a relação acaba ficando mais profissional. Isso te permite que você não se sinta tão mal quando briga. Querendo ou não, ter uma banda é uma relação de trabalho e, às vezes, pode ter uma discussão e aí você não fica com tanto medo de quebrar a amizade. Mas a gente se deu bem desde o começo, então acho que não teve problema.

Not Dead!: Quantos anos tem o pessoal da banda?

Duda: Eu sou o mais velho, com 31 anos. O Jared, o vocalista, tem 27. Os guitarristas têm 24 e o baterista é o mais novo, com 21.

Not Dead!: E você, pessoalmente, como começou a se interessar por música e tocar em bandas?

Duda: Faz algum tempo! O interesse por música existe desde que eu era criança. Minha mãe ouvia muito Beatles, então acho que eles foram a primeira banda que me fez entender que existia música. Depois disso, vieram bandas brasileiras, como Legião Urbana. Mas eu só fiquei apaixonado quando conheci o punk rock.

A primeira banda deve ter sido The Offspring, com “Self Esteem” e “Come Out And Play”. Eu fiquei tipo: “o que é isso? Isso é diferente! É maravilhoso!” Depois teve Bad Religion, Pennywise, todas essas bandas anos 1990. Elas me fizeram cair dentro, comprar todos os álbuns e colecionar. Depois disso, eu dei um salto pro pop-punk, com blink e Green Day.

Not Dead!: A gente vê que o som de vocês conversa bastante com essa “new wave” do pop-punk. Foi algo que seu gosto musical acompanhou naturalmente?

Duda: Sim! Acho legal que tenha essa renovação. O que eu acho interessante no pop-punk é que ele é um grande guarda-chuva: você tem duas bandas que são intituladas pop-punk, mas elas são completamente diferentes. Até o Offspring pode ser considerado pop-punk e você tem sei lá… o The Story So Far como outra banda do gênero, e elas são super diferentes.

Eu acho interessante porque isso mostra como o estilo consegue se renovar. Você tem a onda dos anos 1990, depois surgiram as bandas dos anos 2000, a onda do emo… Hoje em dia, já tem outra cara, é outra renovação que vem com uma galera bem mais jovem que traz outros sons e vai misturando. Eu tenho 31 anos, então acho que consegui acompanhar bem todas essas renovações do pop-punk, principalmente desde o final dos anos 1990 aos dias de hoje.

Not Dead!: Como foram as suas primeiras bandas?

Duda: Eu tinha uma banda no Rio, chamada Louise. Gravamos um EP, fizemos shows pelo estado e foi ótimo. A gente era muito moleque, foi antes de entrar na faculdade, mas era levado a sério! Antes disso toquei em bandas menores, por diversão mesmo. Mas a Louise só acabou por coisas da vida mesmo, já que todo mundo era estudante. Conforme o pessoal foi entrando na faculdade, a banda foi morrendo.

Essa banda existiu em uma época que a cena do Rio sofreu um baque grande, já que várias casas fecharam, como o Casarão Amarelo, Caxanga, enfim, foi um efeito dominó que foi derrubando os espaços para shows e as bandas. A cena foi morrendo porque não existia mais lugar pra tocar. O último local em que nos apresentamos foi no Audio Rebel, que foi um dos últimos que sobraram.

Na Louise, o Mateus Simões tocava com a gente. Hoje, ele está no Phone Trio, muito bem. Na época que a nossa banda acabou, eles começaram e o Mateus se dedicou à banda.

Not Dead!: Foi na mesma época que o Rio viu surgir bandas de hardocre melódico, como o Emoponto?

Duda: Isso, foi justamente nessa época. A gente tocou com Rivets, mas foi depois do Wacky Kids. Foi a época de ouro do hardcore e do punk rock no Rio. Hoje o estado está em crise em vários setores e isso, querendo ou não, afeta a música. É crise econômica, política, crise de legitimidade. Tem empresas indo embora, pessoas perdendo empregos. Isso faz com que as pessoas queiram sair de lá. Tenho amigos que vieram pra São Paulo, e existem outros casos de gente que, assim como eu, foi para o exterior. E aí, afeta a cena.

Not Dead!: E como você foi parar no Canadá? Foi a trabalho?

Duda: Não. Eu já tinha desejo de morar fora. Estudei Relações Internacionais e queria ter a experiência de viver no exterior. O meu sonho também era trabalhar nas Nações Unidas, porque eu tinha um tio que trabalhava lá, em Viena, na Áustria. Então tinha uma vontade de ir para lá, talvez para fazer um mestrado.

Mas com as coisas da vida, tudo mudou. Um casal de amigos que tinha voltado do Canadá me falou que Montreal era maravilhosa e que a cidade tinha um projeto de imigração. Eu fiquei curioso e fui pesquisar. Na época existia um programa para a província de Quebec, pra quem já sabia francês e tal, e era relativamente fácil.

Precisava fazer um teste online, pra saber se você era admissível ou não, e eu fiz e deu positivo. Comecei a pesquisar mais e viajei pra Montreal pra conhecer. Também fui para outra cidade, mas Montreal foi amor à primeira vista. O processo todo levou uns três anos, é bem longo. Mas deu certo e me mudei em 2014.

Not Dead!: De volta ao Dear Youth: vocês estão no meio da produção o primeiro álbum da banda. Como está o processo até agora?

Duda: A gente assinou ano passado com a Anchor EightyFour, que é uma pequena gravadora de Los Angeles. Eu soube deles por causa do Grayscale, porque eles lançaram algumas músicas por esse selo e, graças a elas, foram alçados para a Fearless Records.

Foi assim que o Anchor EightyFour ganhou um pouquinho de fama, mas eles continuam pequenos. A ideia do selo é encontrar pequenas bandas e trabalhar pra ser um “trampolim” para uma gravadora maior. O Cody Jones, que é o dono, curtiu muito nosso som. Nós gravamos um EP independente, “You Could Wish Me The Best”, e ele gostou muito do resultado e nos chamou para gravar o primeiro álbum, com 10 músicas.

Not Dead!: Vocês estão no comecinho do processo?

Duda: Diria que na metade. Agora, estamos no processo de escrever e criando várias demos para escolher o que fica e o que sai do álbum. A gravação está marcada para acontecer em maio e junho, em Toronto. Vamos trabalhar com o Sam Guaiana, que gravou com bandas de pop-punk famosas, como o Like Pacific e outros nomes canadenses. Nós mesmos gravamos o segundo EP com ele.

Mas agora vai ser um trabalho mais completo e longo. Estamos com cinco faixas prontas e a ideia é escrever mais umas dez, pra selecionar as dez do álbum. Quem sabe as cinco que ficarão de fora virem b-sides (risos).

Not Dead!: O Dear Youth tem dois EPs lançados até agora. O que muda em relação a eles com o full length?

Duda: Em relação ao som, a gente tem sentido que tem uma coesão maior no processo de escrever as músicas. Elas fazem mais sentido entre elas, sabe? Se você for ouvir o primeiro EP, vai notar que cada faixa poderia ser de uma banda diferente. Até porque metade foi escrita quando a formação da banda era outra. Também não existia uma identidade ainda.

No segundo EP, a gente começa a criar essa identidade porque escrevemos as músicas juntos. Mas ainda não é 100%. Agora, que já compomos juntos, viajamos e fizemos turnê, a gente vê essa identidade mais presente nas músicas. Vai ficar interessante o resultado, quando ouvirmos as dez músicas juntas.

Acho que também muda o próprio envolvimento entre a gente. Com um full album, as coisas ficam mais sérias. Ter uma gravadora por trás exige um comprometimento da banda, por causa do financiamento e por ter acreditado na gente. Vamos ter que pensar mais nas turnês e nos shows, principalmente nos Estados Unidos.

Nossa próxima turnê, inclusive, vai ser nos Estados Unidos. É o grande mercado e está perto da gente, mas queremos ter o álbum em mãos para ir pra lá. Se você ver nossos plays, muitos são de lá. Talvez a grande mudança seja isso. Se uma gravadora grande se interessar o plano também é excursionar com uma banda grande da cena mundial. A própria Anchor EightyFour está pensando em fazer um festival.

Not Dead!: Essa tour deve acontecer quando?

Duda: O ideal é que aconteça entre o verão e o outono desse ano. A gravadora já está em contato com as produtoras que fazem o booking de shows, pra saber qual banda nós poderíamos apoiar.

Not Dead!: O que tem influenciado as músicas novas, tanto de som quanto de vivências?

Duda: As músicas são muito influenciadas pelo cotidiano da gente. Vida profissional, crescer, vida adulta, a transição dos vinte e poucos anos. As letras não chegam a ser políticas, são mais internas, de questionar o caminho que a pessoa tem que traçar para se tornar um adulto. Então tem esse questionamento de quem somos nós, o que nos faz feliz e quais são os objetivos da vida.

De som, a gente tem tentado fugir dos clichês do pop-punk, com elementos mais alternativos, do indie, mas guardando o núcleo do punk. A gente quer se destacar. O importante é não ser mais uma banda. Tem muita gente que não consegue se renovar e faz o mesmo som sempre, e as pessoas se cansam. Todo mundo sempre quer novidades.

Not Dead!: Isso que você comentou da banda estar tomando um rumo mais sério, esbarra de que forma na vida pessoal de vocês?

Duda: Tem um conflito mesmo. A gente sempre se pergunta isso. O que a gente faz se acharmos uma turnê de um mês? Todo mundo trabalha. No meu caso e do Jared, é mais flexível porque temos nossa própria empresa. Mas os outros integrantes precisariam pedir pro chefe. E no Canadá nós não temos um mês de férias como no Brasil, por lei são três semanas, então é complicado pedir autorização.

Ao mesmo tempo também tem a vida pessoal. Como você passa tanto tempo longe da namorada, etc.. Quanto mais tempo você dedica pra banda, menos tempo tem pra sua vida amorosa, amizades, hobbies, seja o que for.

Not Dead!: E como é a cena de pop-punk canadense, tanto em Montreal e Quebec, quanto no país como um todo?

Duda: Ela é muito diferente da cena daqui. Montreal é diferente porque a cena de rock é bem pesada, com muitas bandas de metal. A maioria dos eventos que acontecem ou são de metal ou subestilos parecidos. Inclusive, a cidade tem um festival que é bem conhecido, o Heavy Montreal, que sempre lota e tem todo ano.

Mas ao mesmo tempo tem outro festival que acontece na província de Quebec, fora de Montreal, o Rock Fest, que é mais punk e abre espaço pro pop-punk. Às vezes, eles também incluem alguns artistas de hip-hop, mas bandas como o blink e o Sum já se apresentaram nele.

Existe uma cena, mas ela é mais difusa nos subúrbios em volta de Montreal. Então é difícil ver shows de pop-punk na cidade que chamem muita gente. Tem que ter uma banda mais de renome e mesmo assim é difícil. Bandas como o Neck Deep, State Champs, Like Pacific e Knuckle Puck tocaram juntas em um show em Montreal e não lotou. Tava cheio, mas não lotado. Mas são bandas de peso, que com certeza lotariam uma casa no Brasil, com gente saltando pela janela de tão cheio

.Acho que uma coisa que atrapalhou muito também foi o fim da Warped Tour, que acontecia também em Montreal. Faz alguns anos que eles pararam de ir à cidade e agora parou em quase todos os lugares.

Mas existe uma cena em Ottawa, a capital. É uma cidade pequena, mas que tem bandas importantes como o Bearings, que criou uma cena em volta. Ontario também é difusa, a galera mora no subúrbio, em cidades satélites. Lá também existem bandas de renome, como o Like Pacific que é a talvez a principal banda da cena no Canadá, eles são de Toronto.

Também existem bandas mais pequenas. Sábado que vem vamos tocar com o Carried Away, de Toronto. Outra é o Ever Elsewhere, que eu acho que também é da cidade. São bandas muito boas, com muita qualidade, mas que competem com a cena de metal.

Not Dead!: Rola também uma influência do metal no som dessas bandas?

Duda: Você tem algumas bandas canadenses que vêm do metalcore, como o Alexisonfire e o Protest The Hero, que são de Ontario e estão entre o metal e o punk, então acho que rola. O próprio Dear Youth já tocou em eventos de metal.

Not Dead!: E como você disse, a banda nasceu no metalcore.

Duda: Exato. Faz muita parte da cena por lá. E tem gente do metal que também curte punk por lá.

Not Dead!: Mas e a costa oeste do Canadá. Como é a cena?

Duda: Do outro lado do país, em Vancouver, a cena é mais isolada. As bandas de Ontario e de Quebec acabam fazendo turnê nas duas províncias, e o resto do pessoal fica totalmente isolado do resto do país por questões geográficas mesmo. Tem uma banda de Vancouver muito boa, o Chief State, que vai tocar em Montreal em abril.

Not Dead!: Quais bandas canadenses você indicaria pra gente?

Duda: Primeiramente o Like Pacific, que é a melhor e minha banda canadense preferida. Eu gosto muito também do Ever Elsewhere, que é bem interessante. Eles são pequenos, mas têm um som muito bom e são super simpáticos, o que é bom. O Chief State, de Vancouver, também é uma boa. Inclusive, o Fraser Simpson, o vocalista, fala português, porque a namorada dele é brasileira. Tem também o Carried Away e o Bearings, que eu diria que é a segunda maior banda do país. Essas fazem parte do meu top five.

Not Dead!: E de volta ao Dear Youth, sei que vocês estão prestes a lançar um novo clipe. Pode falar mais sobre ele?

Duda: Ele já está pronto e só estamos esperando a gravadora decidir a data de lançamento. É para a música “Out Of Sight, Out Of Mind”, do nosso último EP.

O que você achou do som da banda?

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