Hoje, o pop-punk nacional ganha mais um registro para sua história, o EP “Sundae Tracks” do Phone Trio. E falando em história, o trabalho de quatro faixas carrega muita nostalgia em suas letras e melodias. Isso porque, desde que voltou do hiato, o Phone Trio passou a encarar a banda como uma ferramenta para se divertir e criar músicas sem compromisso comercial, além de, é claro, uma válvula de escape de vivências pessoais.
O resultado é um trabalho que tem muitas raízes nas influências tradicionais dos caras, como o punk rock californiano da reta final da década de 1990 e do início dos anos 2000. As letras também resgatam muitas memórias, como lugares e rolês marcantes, histórias de amigos e turnês, e, claro, saudade de pessoas que já se foram.
Em “Sundae Tracks” vemos um Phone Trio livre e à flor da pele, trazendo tudo isso em uma roupagem mais agressiva, mas sem perder as características principais da banda, que é referência no pop-punk nacional há pelo menos 10 anos.
Para contar mais sobre o processo de criação do EP, que sai hoje pela DeckDisc, conversamos com Sal Oliveira, o guitarrista, vocalista e principal compositor do Phone Trio. Ele também fez um balanço da era pós “Bonanza” (2017) e da história da banda, que tem grandes responsabilidade neste ano. Confira!
Not Dead!: Quando perceberam que tinham um material consistente para lançar um novo EP?
Sal Oliveira: Quando a gente voltou com a banda a gente estava muito nessa pegada de gravar, mais até do que tocar. Acho que talvez por causa do nosso momento de vida, como idade e momento profissional… A gente não consegue mais fazer show como antes, falta disposição mesmo, porque a estrada é muito cansativa e, entre 2007 e 2010, a gente não parou de fazer turnê.
Assim que terminamos o “Bonanza”, a gente já estava a fim de começar a gravar coisas novas e também estava com planos de lançar material inédito todo ano, como um EP ou algo do tipo. A gente nem chegou a conversar sobre gravar um full, a gente só entrou numa de gravar músicas e lançar em pequenos blocos. Assim que a gente fez o show de lançamento do “Bonanza”, nós ficamos uns três ou quatro meses parados. O Mateus [Simões, baixista] casou, estava um pouco estressado, e até passar esse momento pré-casamento, acabar a lua de mel e ficar tudo normal, a gente não se encontrou. Aí quando voltamos a tocar, eu já tinha duas ou três músicas na agulha, que fomos passando e conhecendo juntos. Resolvemos gravar quando a gente tinha duas faixas prontas, a “Sundae Tracks” e a “Milo Garage”.
Inicialmente, a gente pensou em lançar um EP de duas faixas, mas aí no meio do caminho aconteceram mais coisas, principalmente na minha vida pessoal, que originaram as outras duas faixas do EP. Essas a gente gravou no susto. Uma delas a gente só tinha ensaiado uma vez, a “Hometown Meltdown”, mas acabou dando certo. Essa música nasceu uma semana antes da gravação do EP e foi uma loucura.
Not Dead!: Isso que você falou de apostar mais em EPs foi algo proposital? Vocês preferem agora trabalhar em um formato menor?
Sal: Foi mais uma soma de fatores. O mercado não consome mais um álbum grande como era antigamente, mas essa nem era nossa motivação principal, foi só um bônus. No final das contas é mais rápido de lançar, temos mais agilidade por termos poucas músicas, e é mais barato também. A banda não é mais nossa atividade principal e é um investimento grande gravar um EP, quanto mais um full. A gente tem conversado recentemente sobre a possibilidade de o próximo lançamento ser um álbum completo, mas só agora com o “Sundae Tracks” que surgiu esse papo.
Not Dead!: O que vocês conseguem notar de mudanças em comparação com o “Bonanza”, o último registro?
Sal: A gente está vindo com um EP mais agressivo. As músicas estão vindo mais punk rock, conversando menos com o pop-punk, apesar de “Sundae Tracks” e “Milo Garage” terem essa conexão. Sentimos que os vocais estão mais agressivos, assim como o instrumental. Tudo está flertando mais com o punk rock californiano, street punk, coisas que a gente cresceu ouvindo no começo dos anos 2000.
Not Dead!: A música que vocês já lançaram, “Hollowed Out”, já aponta essa linha, né?
Sal: Sim, ela é a mais pesada do disco e a gente quis lançar ela primeiro por vários fatores. O principal foi apresentar essa cara mais agressiva da banda. Mas calhou que na semana de eu estar no Rio de Janeiro para o show com o Darvin, quando gravamos esse clipe, morreu um grande amigo meu e foi bem pesado. Essa música eu fiz quando faleceu uma outra amiga minha. Não tem nem seis meses isso e a gente sentiu que era o momento certo para falar de depressão e suicídio. A gente estava com um nó na garganta! Os três muito sentidos, precisando colocar pra fora.
Not Dead!: Essa questão de trazer influências do passado para as músicas, com as bandas que vocês escutavam quando eram mais novos, foi alguma nostalgia que aconteceu recentemente? Vocês voltaram a ouvir coisas antigas?
Sal: Existe uma divisão bem clara no momento que a gente parou e retomou a banda. Antes, a banda era nossa atividade principal e nosso foco era tocar e entrar no mercado americano. A gente estava muito antenado no que acontecia naquele momento na cena. Por conta disso, o “Houston [We Have A Problem]” é um disco muito comercial e muito atual para aquela época. Ele é muito 2010!
Quando a gente voltou, a gente só queria tocar, se divertir e se encontrar, e as influências primordiais falaram mais alto. O “Bonanza” e o “Sundae Tracks” se comunicam mais com as coisas que nós ouvimos desde sempre, principalmente porque a gente não estava nem preocupado em soar como as bandas da atualidade ou de 2010.
Claro que, cada vez mais, tenho virado mais fã das bandas que estão fazendo material novo, tanto que tem um pé ali. Mas o grosso é mesmo o Tony Sly, do No Use, e o Kris Roe, do The Ataris, falando alto pra caralho no meu estilo de composição. São meus maiores ídolos!
Not Dead!: Quais são as suas músicas favoritas no EP?
Sal: “Sundae Tracks” é minha favorita, com certeza, mas todas elas são muito especiais, porque falam de coisas pessoais para mim. Mas acho que a “Hometown Meltdown” é a segunda. Eu fiz do nada, falando da minha mudança para São Paulo e como está sendo um passo importante na minha vida. Acho que por ser mais recente, deve ser por isso que me conecto mais com ela hoje em dia.
Not Dead!: Trabalhar com o Gab Stacolin [mixagem e masterização] foi algo natural ou algo que vocês acharam necessário por causa da visão dele como especialista?
Sal: Foi totalmente natural! Essa relação que a gente tem com ele, com o Dina e com a Never Too Late começou no final de 2016 quando a gente marcou um show no Hangar. A gente abriu um grupo no WhatsApp pra trocar ideias sobre essa apresentação. O Mateus colocou o Gab junto por acaso e todo mundo ficou muito amigo. O Mateus já era muito amigo do Gab e conhecia melhor ele, o Márcio [Dinamite Club], essa galera... Deixamos esse lado para ele. Eu sempre falhei no lado PR da banda (risos). Mas a gente conseguiu fazer coisas muito legais juntos e espero que continue. Ouço o trabalho dele e só consigo pensar que tudo é foda e ele está mandando muita brasa!
Not Dead! O que vocês estão preparando no pós-lançamento?
Sal: Estamos preparando um clipe para “Sundae Tracks” que deve vir com o disco. Além disso, faremos alguns shows grandes no Rio, que estamos animados para caralho! Sem falar da turnê com o State Champs, que vai ser demais. Eu estou muito animado e não vejo a hora de ver o Derek cantar de perto. Talvez a gente entre em estúdio ano que vem também. Com a distância fica difícil, mas a gente se vê com uma frequência razoável, todo mês vou para lá ou eles estão aqui. Não acho que isso vá atrapalhar os processos de composição e gravação.
Gostou? Então é hora de conferir o resultado. Ouça "Sundae Tracks":
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